sábado, janeiro 08, 2022

1ª Expedição: Gasolina no C:ambio Negro

      Até a viagem de motocicleta para o Alaska, muita coisa ainda precisa ser feita, a maior de todas, a viabilização financeira, que está em andamento, mas, que ainda falta um percentual considerável, abaixo de 55%. E enquanto não chegar a hora de subir na moto, eu vou contando algumas histórias das aventuras passadas, começando pela primeira.

            Sábado, 11 de outubro de 2008. Os 785 quilômetros de Manaus até Boa Vista foram bem complicados. Para começar, estávamos iniciando (em 11/10/08) a grande jornada, que consistia em dar a volta de motocicleta pela América do Sul. Saímos de Manaus às seis horas, pegando a BR 174. Nos primeiros 200 quilômetros a gente trafegou por uma rodovia em boas condições, o que nos permitiu avançar bastante. Depois disso, principalmente na grande área da reserva dos índios Ianomâmi, enfrentamos uma buraqueira que parecia não ter fim. Os trabalhos de manutenção não passavam por lá há muito tempo.

            No quilômetro 385 uma nuvem negra avisou-nos que a chuva estava chegando. Eu tinha capa, mas, decidi não usar; o Jadir ainda não tinha comprado a sua. A chuva era certa, mesmo porque estava chovendo bastante naqueles dias por aquelas bandas. Mesmo assim, decidimos encarar. Às nove da noite, quando finalmente chegamos à capital do Estado de Roraima, já não chovia.

            José Maria, empresário muito bem de vida, que nos anos oitenta trabalhou em Itaituba, com o então poderoso empresário Zé Arara, foi nos receber no terminal rodoviário, local que acertamos para nos encontrar. Fomos muito bem recebidos e tivemos uma estada magnífica em Boa Vista. Para nossa sorte o domingo foi de muito sol, o que fez com que tudo enxugasse.

            Na estrada rumo à fronteira com a Venezuela, um vento lateral que sopra do Monte Roraima, que pode passar de setenta quilômetros, foi um companheiro à parte, que exigia cuidados. Com motos leves (eu na XTZ 125 e o Jadir na BROS 150), foi precisa tomar cuidado, pois o vento empurra a gente para o outro lado da estrada, e se bobear, nos momentos em que está mais forte, tira o piloto da rodovia.

            Ao chegarmos a Pacaraima, na fronteira, fomos procurar o vigário, na tentativa de economizar na hospedagem. Entramos na residência do padre Jesus, que alquebrado pelos seus quase 70 anos, veio nos atender visivelmente nervoso. Ele tremia, enquanto ouvia nossa história, parecendo estar diante de dois bandidos com armas apontadas para ele.

Quando perguntamos se poderia nos acolher por aquela noite, foi logo nos dizendo que havia uma ordem expressa do bispo de Boa Vista proibindo alojar qualquer pessoa que não fosse diretamente ligada à Igreja Católica. O motivo: em Caracaraí, o padre local deu abrigo a três jovens, que durante a noite roubaram tudo que puderam.

É realmente muito barato. Só que brasileiro não pode abastecer lá em Santa Elena. Depois, nas próximas cidades, sim, não tem problema. Isso fez com que saíssemos atrás de alguém que vendesse no câmbio negro. Foi uma luta conseguir um contrabandista de gasolina e quando conseguimos o cara não queria vender, pois a quantidade era de apenas 20 litros, enquanto ele só gostava de vender a partir de 50 litros. O próprio Ramon, o cara que nos atendeu, confessou que conseguia a gasolina através de militares venezuelanos, que são responsáveis pelo controle da venda. Disse-nos ele que a corrupção nesse setor é muito grande em todo o país.

Depois de muita conversa o Ramon Quezadas resolveu nos atender, mas, aí começou outra novela. Ele subiu numa moto velha junto com um amigo e mandou que a gente o seguisse. Rodamos por uns 15 quilômetros, saindo da cidade, entrando por caminhos esquisitos. Chegamos a pensar que aquilo era uma armação e poderíamos nos dar mal. Por último ele dobrou numa ruela muito estreita e mal conservada, no final da qual havia uma casa com um monte de tambores de 200 litros.

O Ramon abriu um deles e encheu os nossos tanques, cobrando um Real por litro. Pagamos em Real, mesmo e seguimos de volta para o centro de Santa Elena, para dar uma olhada no comércio, já que se trata de zona de livre comércio. Seguimos viagem, pernoitando em San Izidro, numa região de garimpos de ouro.

Jota Parente

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