Bancos ficam sem dinheiro, ações no exterior de principais empresas e rublo derretem, juros disparam
O preço da ação do Sverbank negociada na Bolsa de Londres caiu mais de 73%. É o maior banco russo e o maior alvo de sanções do "Ocidente". Sua subsidiária austríaca, o Sverbank Europe, "está falindo ou deve falir" por causa de saques em massa, segundo comunicado do Banco Central Europeu. A Bolsa de Moscou foi fechada para a maior parte de seus negócios e não deve abrir nesta terça-feira (1°).
Empresas e investidores passaram a ser obrigados a vender moeda "forte" (dólares, euros etc.) ou foram impedidos de vender ativos para sair do país. A partir desta terça-feira, russos não podem mais fazer remessas ou empréstimos para o exterior, decidiu também Vladimir Putin, que chamou essas medidas defensivas amargas de "contra-sanções". No conjunto, trata-se de controle de fluxo de capitais, como se diz no jargão: providências típicas de países em crise externa violenta, quase asfixia.
"A situação da economia russa mudou dramaticamente" por causa das "sanções impostas por estados estrangeiros", disse a presidente do BCR, Elvira Nabiullina a jornalistas. É "totalmente anormal". Em estudo detalhado sobre os efeitos das sanções, o Institute of International Finance acredita que as retaliações vão provocar uma queda do PIB russo neste ano, entre outras previsões sombrias.
Como a população e empresas correram para sacar dinheiro aos montes desde sexta-feira, os bancos "estão com um déficit estrutural de liquidez" (têm recursos, não estão insolventes, mas não têm caixa, grosso modo), disse ainda Nabiullina na segunda-feira de pânico. Os russos podem ter depósitos denominados em moeda estrangeira —eram cerca de 20% do total de depósitos bancários de pessoas físicas (26%, no caso das empresas), em dezembro, segundo estatísticas do BCR.
Sem confiança de que haverá dólares ou euros suficientes, a desvalorização do rublo ganha mais impulso (já vimos variante disso na Argentina): trata-se de uma corrida bancária (saques) e uma corrida contra o rublo (venda da moeda nacional).
No final de semana, EUA e aliados bloquearam o acesso do Banco Central da Rússia (BCR) às suas reservas internacionais. Ainda assim, como a venda ou o pagamento das principais exportações russas (energia, grãos) não foram objeto de sanções, a Rússia ainda pode sobreviver com o "dinheiro do mês" que entra por essa via e, talvez, até estabilizar o mercado por algum tempo.
Os mercados de ações e de dívida caíram nos Estados Unidos e nas principais praças da União Europeia, mas sem tumulto mais anormal. O S&P 500, o índice mais representativo de ações dos EUA, caiu 0,24%. A manutenção do fornecimento de energia russa para a Europa e a expectativa de que as taxas de juros subam em ritmo mais moderado (para combater a inflação) tem segurado tombos maiores. Na semana passada, depois de tombos, os mercados recuperaram as perdas. Neste início de semana, voltou ao vermelho.
Na Rússia, porém, a segunda-feira do BCR e do Ministério das Finanças foi ocupada pela tentativa de evitar colapsos e quebras bancárias.
Apesar do pânico, da alta de juros e da desvalorização do rublo, a Rússia ainda pode ter acesso a parte dos US$ 643 bilhões de suas reservas (as que não estão bloqueadas por EUA, União Europeia, Reino Unido, Canadá e Japão). De resto, pode fazer transações financeiras que se contornem parte das limitações impostas pelo "Ocidente". Por fim o dinheiro obtido com a maior parte de suas exportações não está sujeito a sanções. Em janeiro, a Rússia teve superávit (exportou mais do que importou) de US$ 21,4 bilhões, na maior parte dinheiro obtido com a venda de petróleo, gás, grãos e minérios.
Pela manhã, o BCR elevou a taxa básica de juros de 9,5% para 20% a fim de evitar desvalorização maior do rublo e corridas dos ativos e bancos russos. Um dólar chegou a custar 118 rublos, fechando a 97, mas com mercados financeiros fechados e restrições a negociações, tais preços são pouco representativos. A alta de juros é uma tentativa de tornar depósitos bancários atrativos, proteger a poupança das famílias da desvalorização e evitar inflação
Além do mais, o BCR tomou medidas heroicas a fim de evitar uma seca de empréstimos domésticos. Obrigou que exportadores vendam obrigatoriamente 80% sua moeda "forte" (dólares, euros etc.). Sem moeda de aceitação internacional, a Rússia não teria como pagar importações e outros compromissos internacionais.
Reservas internacionais são uma poupança financeira de um governo em moedas "fortes", aceitas no mercado internacional (dólar, euro, libra, iene, aos poucos o renminbi chinês). Em geral, são compostas na maior parte de aplicações em títulos da dívida americanos ou europeus (são "empréstimos" para esses governos).
Fonte: Folhapress
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