Auxiliares de Bolsonaro passaram a questionar o custo de ceder a chave dos cofres públicos a líderes do CentrãoA influência do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, sobre áreas estratégias da máquina pública federal tornou-se um foco de desgaste para o governo desde a semana passada. Os problemas começaram com a divulgação da supostas irregularidades na gestão do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), presidido por Marcelo Ponte, ex-chefe da gabinete do ministro. Além disso, na sexta-feira, a Polícia Federal concluiu que Nogueira praticou os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Esses últimos acontecimentos geraram um mal-estar no Palácio do Planalto, especialmente entre alguns integrantes da ala militar.
No entorno do presidente Jair Bolsonaro, a avaliação é que, no momento, o titular da Casa Civil segue inabalável no cargo, já que a sua saída poderia causar prejuízo político à campanha à reeleição de Bolsonaro, da qual ele é um dos coordenadores. No entanto, há uma preocupação sobre o efeito das suspeitas sobre a imagem do presidente, a cerca de seis meses da eleição. Auxiliares de Bolsonaro passaram a questionar o custo de ceder a chave dos cofres públicos a líderes do Centrão.
Embora ocupe um dos ministérios mais importantes do Executivo federal, Ciro Nogueira jamais encontrou respaldo entre a ala militar do governo. Presidente licenciado do PP, um dos pilares do centrão, Nogueira tomou posse em agosto do ano passado, dizendo que desempenharia o papel de "amortecedor" da administração Bolsonaro, pacificando as relações com os Poderes Judiciário e Legislativo. Sua chegada, porém, provocou uma perda de influência dos militares no Planalto. Os antecessores imediatos de Nogueira são de origem das Forças Armadas. Foram eles os generais da reserva: Luiz Eduardo Ramos (deslocado para a Secretaria-Geral) e Walter Braga Netto (depois transferido para a Defesa). Além disso, por ser um nome do Centrão, Nogueira não foi bem-visto por boa parte do núcleo ideológico bolsonarista, que era mais reticente a acordos com o bloco de partidos.
Entretanto, a reforma ministerial realizada no fim de março devolveu poder aos militares. Flávia Arruda, deputada federal do PL, deixou Secretaria de Governo e foi substituída por Célio Faria Júnior, ex-chefe de gabinete de Bolsonaro. Apesar de ser civil, ele atuou por 20 anos como assessor da Marinha. Ao mesmo tempo, Braga Netto, que estava na Defesa, voltou ao Planalto, mas agora como assessor da Presidência.
Outro general que despacha no Planalto é o titular do GSI, Augusto Heleno, que na campanha de 2018 fez piada com o Centrão, relacionando o bloco de partido a ladrões.
No domingo, O GLOBO mostrou que 75% dos recursos destinados pelo FNDE para a compra de caminhões frigoríficos foram destinados para 14 cidades comandadas por prefeitos do PP, partido do qual Nogueira é presidente licenciado. Dessas cidades, nove ficam no Piauí, estado do ministro. Parte dos prefeitos agraciados se reuniu com o ministro pouco tempo antes de suas cidades receberem os veículos. O presidente do FNDE é Marcelo Ponte, que foi chefe de gabinete de Nogueira no Senado.
Na semana passada, o GLOBO também mostrou que o PP e o PL foram os partidos mais beneficiados com obras feitas pelo FNDE desde 2021. Cidades comandadas pelas duas siglas receberam, proporcionalmente, mais melhorias do que outros partidos, tanto em número de cidades agraciadas quanto em número de construções.
Fonte: O Globo
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