“Quem trata de eleições são forças desarmadas. As eleições dizem respeito à população civil, que, de maneira livre e consciente, escolhe os seus representantes. Diálogo, sim. Mas, na Justiça Eleitoral, a palavra final é da Justiça Eleitoral”. (Edson Fachin, presidente do TSE)
Aumenta a escalada do uso por Jair Bolsonaro das Forças Armadas contra a democracia e a situação inspira sérios cuidados. Foi a essa conclusão que chegaram por unanimidade os poucos convidados da senadora Kátia Abreu (PP-TO) para jantar na quarta-feira (11) em seu apartamento na Asa Sul, de Brasília.
Além da anfitriã, fartaram-se com generosas porções de bacalhau os senadores Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (REDE-AP). E os ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, o mais antigo, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandoski.
Apesar de mineiro, Pacheco, presidente do Senado, destacou-se pela firmeza de suas declarações. Uma delas: “Não deixarei a Justiça isolada”. E menos de 24 horas depois, em Salvador, ao participar da abertura do Congresso Brasileiro de Magistrados, fez uma enfática defesa da democracia e do Poder Judiciário:
“É preciso haver um fortalecimento das instituições. Como disse o governador Rui Costa aqui, é inimaginável que chegássemos em 2022 precisando defender o judiciário. Precisamos defender a democracia em tempos de atentados nocivos à sociedade brasileira”.
O sujeito oculto da fala de Pacheco foi Bolsonaro, que tenta, sem apresentar provas, desacreditar o processo eleitoral. É grande o medo que ele tem de não se reeleger e de ser preso depois que passar o cargo ao seu sucessor. Bolsonaro é investigado pelo Supremo por estimular manifestações antidemocráticas.
Como de hábito, quando se vê confrontado, ele recuou e se fez de santo. Bolsonaro chegou a sugerir que as Forças Armadas fizessem uma apuração paralela dos votos. Como resposta, ouviu do ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que em breve cederá o lugar ao seu colega Alexandre de Moraes:
“Quem duvida do processo eleitoral é porque não confia na democracia e quem defende ou incita a intervenção militar está praticando ato de afronta à Constituição e à democracia. Não se trata de recado.. […] A Justiça Eleitoral está aberta a ouvir, mas jamais estará aberta a se dobrar a quem quer que seja”.
Então, Bolsonaro miou:
“Não existe interferência, ninguém quer impôr nada, atacar as urnas, atacar a democracia, nada. Ninguém tá fazendo atos antidemocráticos. […] Então, prezado ministro Fachin, a gente não entende a maneira do senhor se referir às Forças Armadas, que foram convidadas a participar do processo eleitoral”.
Voltará a rosnar logo mais.
Ricardo Noblat (Metrópoles)
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