Para esses povos, a educação tem sido um caminho importante de valorização da sua cultura, identidade e preservação de saberes. Desde 2009, por exemplo, mais de 100 indígenas se formaram na Universidade Federal do Pará (UFPA).
E nos últimos dez anos, 11 turmas concluíram o ensino superior na Universidade do Estado do Pará (Uepa) - conquistas que se contrapõem às condições sociais nacionais que impõem dificuldades de protagonismo e autodeterminação aos povos tradicionais no Brasil.
Na última quarta-feira (8), 74 indígenas da etnia Munduruku integraram a 11ª turma a concluir o curso de Licenciatura Intercultural Indígena, ofertado por meio do Núcleo de Formação Indígena da Uepa.
A solenidade foi realizada na sede da cidade paraense de Jacareacanga, na divisa com os estados do Amazonas e Mato Grosso. “Hoje é um dia especial para mim e para as pessoas que estão prestigiando, porque foi uma batalha de longo tempo. Hoje eu sou um exemplo para as pessoas da minha comunidade, para o cacique e para todos aqueles que gostam de ver a gente sendo vencedor”, anima-se o graduando Marcelo Saw Munduruku. Para ele, a formação representa uma conquista histórica.
"Hoje eu sou um exemplo para as pessoas da minha comunidade, para o cacique e para todos aqueles que gostam de ver a gente sendo vencedor” - Marcelo Saw Munduruku, graduando"
Marcelo comenta que a educação formal do indígena ainda é um grande tabu, algo que muitas pessoas olham com estranheza, como se o ambiente acadêmico não fosse um espaço ao qual eles podem pertencer: “Essas pessoas têm que pensar duas vezes, porque a educação superior indígena nos faz vencedores.
Sempre está na minha cabeça que, se hoje eu estou aqui, eu não vou ficar para sempre. Por isso pretendo ser exemplo para aqueles que vão ser meus alunos, para que eles nunca desistam, porque eles são o futuro”.
A responsabilidade com as próximas gerações tem um sentido muito especial para a turma de graduandos Munduruku. Eles entendem a formação universitária como um modo de reforçar a perpetuação dos seus saberes e culturas para as gerações seguintes.
“Como somos professores de educação intercultural, precisamos valorizar nossa cultura e a educação escolar indígena. Para nós é uma responsabilidade muito grande, porque, através dos conhecimentos adquiridos nos últimos seis anos, nós iremos repassar para os nossos parentes, netos, sobrinhos e várias gerações da nossa cultura Munduruku”, resume Roseane Kabá Munduruku, oradora da turma.
Fonte: O Liberal
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