Com a simbiose entre os predadores ambientais e as grandes facções criminosas, a rede de ilegalidades se fortalece e a violência prevalece. De forma cruel, assustadora e ostensiva. Como vimos, recentemente, nos assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari. Além de chocar o mundo, o duplo homicídio tornou perceptível o que está prestes a se tornar incontrolável.
Existe um repertório eloquente de fatos, estatísticas e estudos que infelizmente comprovam: o domínio sobre a Amazônia deixou de ser exercido pelo Estado. Hoje, quem manda na floresta é o crime. São contundentes os resultados do projeto Cartografias das Violências na Região Amazônica, desenvolvido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O estudo demonstra, com rigor científico, que a destruição da floresta é resultado de atividades ilegais alimentadas “por cadeias criminosas nacionais e transnacionais que movimentam diferentes economias”.
Uma rede que domina do tráfico de drogas à extração ilegal de madeira e minérios. Financia a pesca ilegal e a especulação imobiliária. Promove a lavagem de dinheiro, o tráfico de pessoas e o contrabando de animais silvestres.
estudo também revela a interiorização cada vez mais acelerada da violência. Os pontos identificados como focos de crimes ambientais são exatamente os mesmos que apresentam elevadas taxas de mortes violentas intencionais.
Outro documento, o Anuário de Segurança Pública, constata que quase metade das 30 cidades mais violentas do País estão na Amazônia Legal. São cidades pequenas, próximas a terras indígenas e que fazem fronteira com países conectados com a rota do narcotráfico. A taxa de mortes violentas na região é de 30,9%. Um terço maior que a média brasileira de 22,3%.
São números reais de uma violência progressiva, endêmica e letal, com as digitais marcantes de organizações como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), além da Família do Norte e Os Crias, não menos perigosas. Esse poder é exercido de forma acintosa, ao arrepio da lei, porque o crime organizado percebeu, na Região Norte, um terreno fértil para semear ilegalidades e se abrigar na sombra da impunidade.
Há anos a apropriação de capital e de poder impõe-se, paulatinamente, por causa do hiato de comando e controle na Amazônia. Uma ausência acentuada, nos últimos anos, pelo flagrante desmonte das instituições civis que deveriam preencher essa lacuna e pelo desinteresse das forças militares, que deveriam defender com prioridade o maior ativo ambiental brasileiro.
Leia o artigo completo de Jarbas Vasconcelos em www.dol.com.br
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