Forças tradicionais se fortalecem nas primeiras eleições para governador do país, marcadas pelo mais baixo comparecimento às urnas já registrado no Chile
México, Venezuela e Bolívia já estavam sob o comando de governos esquerdistas, agora, a extrema elegeu o novo presidente do Peru e a centro-esquerda venceu as eleições no Chile.
SANTIAGO — A coalizão de centro-esquerda Unidade Constituinte foi a grande vitoriosa e ganhou 8 das 11 regiões que disputava no segundo turno das eleições para governador no Chile, realizadas no domingo. Com o resultado, o bloco que substituiu a Concertação — a força mais poderosa desde a redemocratização, que governou o país de 1990 a 2010 — governará 10 das 16 regiões chilenas.
Já a coalizão Chile Vamos, do presidente conservador Sebastián Piñera, foi a grande derrotada, elegendo só um entre seus nove candidatos no segundo turno e nenhum no primeiro.
Apenas três governadores foram escolhidos no primeiro turno, realizado há um mês, o que significa que 13 regiões estavam em disputa no domingo.
Esta foi a primeira vez que o Chile realizou eleições para governador — até então, as regiões eram governadas por pessoas indicadas pelo Executivo federal. O pleito foi marcado pela baixíssima participação eleitoral: em meio a 13 milhões de chilenos aptos a votar, apenas 2,5 milhões compareceram às urnas, uma participação de 19,6%.
O Chile há muito sofre com o baixo comparecimento eleitoral, sobretudo desde a adoção do voto voluntário em 2012, mas esta foi a pior participação já registrada no país. No plebiscito de outubro de 2020, que definiu a substituição da Constituição, 50,95% dos eleitores participaram. Em maio passado, nas eleições conjuntas para os 155 deputados constituintes, prefeituras e governadores, o comparecimento foi de 43,41%.
O partido mais bem-sucedido no pleito domingo foi o Democrata Cristão, que venceu disputas em quatro estados, incluindo a Região Metropolitana de Santiago. O advogado democrata cristão Claudio Orrego obteve 52,7% dos votos contra a candidata da Frente Ampla, partido da esquerda mais jovem, a cientista política Karina Oliva, de 36 anos, que atingiu 47,27% dos votos.
No Chile, a Democracia Cristã é uma força progressista, que compõe a Unidade Constituinte. Também pela coalizão da UC, o Partido Socialista, que já ganhara a eleição na região de Aysén no primeiro turno, elegeu mais três governadores. A coalizão elegeu ainda dois candidatos independentes que concorreram por sua legenda, sendo um no primeiro e um no segundo turno.
A única vitória da direita foi a do jovem candidato independente Luciano Rivas, inscrito pelo partido Evópoli, que foi eleito para governar a região da Araucanía, tradicional terra dos índios mapuche, marcada por conflitos pela propriedade da terra.
O grande número de derrotas é um mau sinal para os quatro candidatos da direita que buscam suceder Piñera: Joaquín Lavín (UDI), Sebastián Sichel (independente), Ignacio Briones (Evópoli) e Mario Desbordes, da Renovação Nacional (RN), o partido de Piñera.
Já a Frente Ampla só terá um governador, em Tarapacá. Candidatos independentes foram eleitos para mais três regiões, governando ao todo quatro regiões.
Embora não haja correlação direta entre a inédita eleição de governadores e a eleição presidencial de novembro próximo, um triunfo da aliança formada pela Frente Ampla e pelo Partido Comunista teria fortalecido esse setor na futura disputa.
O resultado, ao contrário, dá nova esperança à ala moderada da oposição, que tem vários candidatos na corrida presidencial: a socialista Paula Narváez, o radical Carlos Maldonado e a senadora democrata cristã Yasna Provoste, a mais competitiva do setor.
No dia 18 de julho, os candidatos da esquerda ao Palácio de La Moneda, Daniel Jadue (do Partido Comunista) e Gabriel Boric (da Frente Ampla), irão disputar primárias para decidir quem representará a esquerda nas eleições presidenciais. Ambos apoiaram firmemente a candidata Oliva ao governo de Santiago, que obteve uma votação elevada, mas insuficiente para prevalecer sobre Claudio Orrego.
O governador eleito por Santiago, que tomará posse em 14 de julho, começou na política como estudante universitário nos anos 1980, na luta contra o regime militar. Depois foi ministro no governo de Ricardo Lagos (2000-2006), prefeito do município de Peñalolén durante oito anos e, durante o segundo governo de Michelle Bachelet, foi prefeito de Santiago, cargo que ocupou entre 2014 e 2018. Com reconhecida capacidade de gestão local, sua figura está fortemente relacionada à classe política convencional, contra a qual a sociedade chilena parecia se rebelar.
Fonte: O Globo e El País