Na iminência de um colapso em seu sistema de saúde provocado pela rápida escalada da transmissão do novo coronavírus, o governo de São Paulo decretou uma "fase emergencial" mais dura de seu plano de combate à pandemia.
As restrições começarão em quatro dias, na segunda (15), e inicialmente, valerão por 15 dias. O quadro pintado pelo governador João Doria (PSDB) e outras autoridades foi o mais sombrio, e as medidas, as mais restritivas até aqui na crise sanitária. Segundo dados do governo, 53 municípios do estado estão com suas UTIs completamente lotadas nesta quinta, 21 a mais do que na segunda (8).
A partir de segunda-feira, haverá um toque de recolher das 20h às 5h, período em que as pessoas deverão ficar em casa e poderão ser abordadas para orientação em todo o estado.
Não haverá multa para pessoas físicas nem detenção. Autuações seguirão sendo aplicadas a donos de estabelecimentos que promovam aglomerações, como é hoje. A frequência de praias e parques estará vetada.
Haverá blitze de fiscalização pela PM e pela Polícia Civil. Como já ocorre desde o começo da pandemia, quem estiver sem máscara poderá ser multado. "Não estamos fazendo um lockdown", disse Doria, referindo-se ao conjunto de medidas, implementado em alguns países, que restringe a circulação a casos urgentes, como comprar comida e remédios ou ir ao hospital.
Na cidade de São Paulo, a ideia do pacote é reduzir em 4 milhões o número de pessoas circulando diariamente —um terço dos 12 milhões de habitantes da capital. O transporte coletivo seguirá funcionando, mas é recomendado um escalonamento de entrada no trabalho por categorias ao longo do dia para aliviar a lotação de ônibus e trens.
A fase emergencial, que não altera a escala de cores do Plano SP de manejo econômico da crise, inclui um fechamento de colégios estaduais. Para não atrapalhar o calendário, os recessos de abril e outubro serão adiantados para as semanas de 15 a 28 deste mês.As escolas seguirão parcialmente abertas para atender alunos vulneráveis que precisem de alimentação ou que precisem de equipamento para aulas remotas.
O fechamento não vale para as redes municipais nem para as escolas privadas, que poderão continuar funcionando da forma como julgarem necessário, dentro do limite de 35% de ocupação.
Segundo o governo estadual, haverá conversa com as prefeituras sobre a redução do funcionamento dos estabelecimentos das municipais. A recomendação geral para alunos é que fiquem em casa se puderem.
Ao todo, 14 setores econômicos serão afetados pelo endurecimento de regras. Supermercados e farmácias seguirão abertos, mas é recomendado que o público evite frequentá-los depois das 20h. Como serviço essencial, eles têm horário liberado na fase vermelha, a mais restritiva, em vigor desde o sábado (6).
Serão excluídas dessas classificação lojas como as de material de construção, que terão de fechar. Cultos religiosos, que haviam sido permitidos na última reclassificação do Plano SP, serão suspensos —fiéis poderão ir rezar individualmente nos templos.
Jogos de futebol e de outros esportes coletivos seguirão o mesmo caminho, à revelia da federação paulista. Escritórios e serviço público não essenciais terão suas atividades presenciais vetadas.
Serviços de retirada de alimentos e produtos nos estabelecimentos ficarão vetados, mas o delivery segue permitido.
Em vídeo gravado e distribuído em redes sociais, o governador Doria afirma que as medidas serão impopulares.
"Vou honrar o cargo que ocupo, mesmo que isso custe minha popularidade. Vocês me elegeram para cuidar de vocês, não para cuidar de mim", afirmou. "Nossos hospitais estão chegando no limite máximo de ocupação. Temos de adotar medidas mais duras de distanciamento social", disse.