Com a morte do ator mexicano Roberto
Gomes Bolaños não temos mais a quem recorrer, pois o impagável personagem
Chapolin Colorado só poderá ser visto nos episódios que ficaram gravados. Dessa
forma, ficou complicado pedir ajuda para a situação em que vivemos, seja pela
crise na economia que o governo federal demorou uma eternidade para admitir que
existe, seja pelos problemas que temos no município, muitos dos quais poderiam
ser resolvidos, caso tivéssemos uma administração municipal mais competente, ou
pelo eterno abandono do governo do Estado.
Ainda no primeiro semestre do ano
passado, eu produzi matérias nas quais empresários, gerentes de bancos e
lideranças empresariais foram ouvidas. Naquela oportunidade, foi unânime a
afirmação de que o município de Itaituba já estava passando por uma crise econômica.
Foram apresentados números que corroboraram as colocações dos entrevistados.
Vivemos a expectativa da chegada de
um tal de progresso que alguns aguardam como a grande oportunidade da vida para
ganhar dinheiro, não interessando a que custo para a sociedade. São milhares de
empregos que esse pessoal acredita que serão gerados, o que em se
concretizando, aumentaria enormemente a demanda por praticamente tudo em
Itaituba.
Esse progresso viria com um grande
pacote fechado, trazendo muita coisa boa, e também muita coisa ruim, a pior
delas, o aumento da violência, fora do controle das autoridades. Pelo menos
essa parte a gente já está vendo e sentindo os efeitos, pois a bandidagem veio
muito na frente, como mostram os seguidos assaltos que tem sido feitos por
bandos, como foi o caso do arrombamento do supermercado Itafrigo, o assalto ao
Restaurante do Chico, depois do Aruri e o mais recente, quarta-feira da semana
passada, à agência do BASA, em Rurópolis.
O Brasil, que é um país maravilhoso,
de gente boa, é também um país surreal, pois temos um governo central que não
consegue resolver os problemas básicos que nos afligem, mergulhado em um oceano
de corrupção, mas, quer nos ensinar a como criar os nossos filhos. Basta
lembrar da tal da Lei da Palmada. Injeta muito dinheiro na Educação, mas, gasta
mal, ou desvia parte da verba. No que tange à segurança, fala, mas, pouco faz.
A responsabilidade
principal pela segurança pública, essa do dia a dia, conforme nossa
constituição, cabe aos governos estaduais. São eles os executores das ações de
segurança, além de construírem e cuidarem das prisões estaduais. Para isso
contam com a Polícia Militar - que faz o policiamento ostensivo e preventivo e
a manutenção da ordem pública; a Polícia Civil, que busca obter provas
materiais e identificar os autores dos crimes para que eles sejam denunciados à
Justiça; e o Corpo de Bombeiros Militar - força encarregada de prevenção e
combate a incêndios, de busca e salvamento, e de ações de defesa civil. Bonito
no papel, mas, inócuo na prática.
O tal do Estatuto do
Desarmamento, cujo artigo 35, exatamente o que tratava da proibição pura e
simples da venda de armas no Brasil, foi rejeitado por 64% da sociedade
brasileira em referendo no ano de 2005. Essa questão continua sendo discutida
no Congresso Nacional, pois a pressão para que o cidadão possa adquirir uma
arma de fogo obedecendo a uma série de regras rígidas é muito grande, enquanto
a bandidagem age à vontade.
O espírito da lei do desarmamento é
muito bom, mas, não funcionou, porque o governo federal não tem capacidade de
fiscalizar as fronteiras e nem se quer de fiscalizar os portos como deveria,
por onde entram as armas que municiam a bandidagem, assim como os governos
estaduais são incompetentes para garantir a segurança das pessoas.
O objetivo era desarmar o cidadão
para diminuir os números da violência. Porém, desde que a proibição entrou em
vigor, os números relativos a mortes por arma de fogo só fizeram crescer, porque
os bandidos estão cada vez mais bem armados, contra o cidadão que só conta com
as mãos para se defender, porque a polícia costuma chegar depois do acontecido,
em vez de fazer um trabalho bem feito de prevenção por meio de serviço de
inteligência.
Eu não acho que ter uma arma em
casa, muito menos, andar armado, possa ser a solução. Mas, qual é a solução
ideal, se a violência continua crescendo, pois desde que o Estatuto do
Desarmamento entrou em vigor, o Brasil teve mais algumas cidades incluídas na
lista das mais violentas do mundo. Logo, o Estatuto do Desarmamento não
resolveu o problema.
O certo é que os bandidos agem muito
à vontade, como fizeram todos esses que citei sobre os assaltos recentes, pois
quando decidem entrar na casa ou no comércio de alguém, o fazem quase com a
certeza de que quem vai estar lá nada poderá fazer, mesmo que não seja
surpreendido, com medo de ser preso por porte ilegal de arma. E assim vamos
vivendo, surfando na incompetência dos nossos governantes, até Deus sabe
quando.
Artigo publicado na edição 195 do Jornal do Comércio, circulando desde quarta-feira passada.