“Assumam o seu papel de defensores dos direitos
nossos. Os senhores foram eleitos por nós para nos defender, por isso assumam o
seu papel. Só isso, porque os que antecederam vocês 12 anos atrás foram
criminosos ao assinarem o projeto do porto da Cargill”, disse Padre Edilberto
Sena na sessão da Câmara.
À maneira do ex-ministro Cid Gomes,
que deixou o Ministério da Educação por ter chamado os deputados federais de
“achacadores” durante uma reunião pública em Belém, e de haver repetido a
afirmação em sessão da Câmara Federal,ontem, 18, também no Pará, no município
de Santarém, um episódio semelhante promete tornar o padre e militante de
causas sociais, Edilberto Sena, coordenador da Comissão Diocesana Justiça e
Paz, persona non grata aos vereadores locais.
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Padre Edilberto |
Anteontem, 17, o religioso,
juntamente com um grupo de militantes e membros de associações populares esteve
numa sessão da Câmara Municipal para falar da manifestação que pretendem
realizar no próximo domingo, dia mundial da água, visto que o grupo integra as
lutas locais contra a instalação de portos privados de empresas exportadores
que chegam à cidade de Santarém. Segundo Padre Edilberto, esses portos, assim
como ocorre em Itaituba, comprometem seriamente a salubridade do Rio Tapajós e
de lagos circunvizinhos.
Os vereadores levaram um susto quando
o religioso, chamado para dar a sua palavra da tribuna, disse, sem pestanejar,
aos vereadores: “Assumam o seu papel de defensores dos direitos nossos. Os
senhores foram eleitos por nós para nos defender, por isso assumam o seu papel.
Só isso, porque os que antecederam vocês 12 anos atrás foram criminosos ao
assinarem o projeto do porto da Cargill”. A Cargill é uma grande empresa de
origem norte-americana que transporta soja do porto de Santarém para o
exterior, com seu terminal localizado sobre um sítio arqueológico. Segundo os
movimentos sociais, a empresa opera há muitos anos de modo ilegal no município.
Antes, Edilberto havia dito: “Vou ser
curto e direto ao tema. Sou coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de
Santarém. Esta reivindicação vai a três grupos aqui presentes: aos empresários,
ao plenário e aos vereadores. E esquematizou a reivindicação:
a) “Aos empresários: os senhores
podem implantar as suas empresas e gerar seus lucros, mas não como e onde
querem. Nós não somos otários;
b) Ao plenário: precisamos nos unir e
lutar juntos por nossos direitos e não aceitar imposições que nos prejudicam.
Não nos fiemos nos políticos, temos que agir como sociedade que resiste a
imposições sobre nossos direitos; e se aceitarmos, aí sim, seremos otários”.
Tudo isso não levou mais que 4
minutos. “Fui inscrito para falar pela Comissão Justiça e Paz da Diocese, após
as falas oficiais das associações de moradores, da Pastoral Social, Famcos,
Unecos, etc., e depois dos empresários envolvidos”. O presidente da mesa,
vereador Reginaldo Campos, antes das falas dos empresários, resolveu modificar
a dinâmica da sessão, passando a palavra aos inscritos, sendo o padre Edilberto
chamado por primeiro.
Em vista do ocorrido, os vereadores
decidiram remeter uma carta ao bispo dom Flávio Giovenale, repudiando as
palavras do padre Edilberto. Antes, porém, o padre escreveu ao bispo, dando a
sua versão dos acontecimentos.
Na carta ao bispo, ele afirma: “Ao
chegar há pouco, na Pastoral Social, fui informado que meu pronunciamento na
Câmara causou impacto negativo entre os vereadores. Soube também que eles
ficaram indignados e estarão enviando carta de repúdio a ser entregue ao sr.
Bispo. Não falei nenhuma vez a palavra “corrupto”. Mas imagino que ao dizer que
nós, do plenário, não devíamos nos fiar nos políticos, eles podem ter
interpretado que os acusava de corrupção”.
Prossegue a explicação:
“Frisei que nós, da sociedade civil
organizada e ameaçada pelas obras do progresso em Santarém, não vamos nos fiar
nos políticos. É que o projeto dos portos novos na periferia da cidade já vem
sendo discutido, desenhado e encaminhado há mais de um ano. Nós da Pastoral
Social já participamos de várias reuniões e encontros em defesa dos direitos
dos moradores dos bairros afetados e do meio ambiente do lago do Maicá.
Inclusive, já aconteceu um seminário específico no bairro Pérola do Maicá, com
presença da SEMA estadual e Ministério Público Estadual, mas nenhum vereador
compareceu e se manifestou em favor dos moradores dos bairros”.
“A Rádio Rural de Santarém já
promoveu um debate sobre o tema do projeto dos portos graneleiros. Compareceu,
entre outros debatedores, o então secretário de planejamento e desenvolvimento
municipal, Valdir Matias, que fez forte defesa das empresas do projeto dos
portos. Os vereadores nunca antes participaram de reuniões e encontros com as
associações de moradores para escutar o povo”.
Já o vereador Henderson Pinto, que
foi o mais escandalizado com o pronunciamento do padre Edilberto Sena, com seu
furioso pronunciamento "pode ter desviado o assunto dos portos, cujo
plenário da sessão especial se manifestava visivelmente preocupado com os
impactos dos tais projetos".
Henderson Pinto é um defensor firme
dos projetos portuários. No dia 24 de abril de 2014 em entrevista ao Jornal
TapajósNet afirmou o seguinte: “O projeto da Ceagro é viável e representa um
ganho em termos de desenvolvimento econômico para o município. Acredito,
continuou Henderson, que esse projeto vai nos auxiliar no nosso processo de
desenvolvimento, no aquecimento da nossa economia, principalmente na geração de
emprego e renda e também, em dividendos para o município de Santarém e toda a
região. Eu gostei muito da apresentação da Ceagro e da forma que eles estão
pensando para se implementar no município”.
Finaliza Edilberto: “Assim sendo,
compreendo que eles tenham se doído com as colocações que fiz”.
Fonte: blog do Manuel Dutra