terça-feira, junho 03, 2008

Cada um tem um pouco de culpa

Artigo do Jota Parente
Tendo conhecido de perto as entranhas do poder, sinto-me à vontade para falar de muitos assuntos atinentes ao mesmo em muitos dos seus setores. Muitas das hipóteses que formulava quando olhava de fora tornaram-se certezas quando passei para o seu interior.
Achei sempre que a sociedade dispunha de poucos recursos para controlar o monstro sem cabeça chamado Poder Público e que era preciso fazer alguma coisa para que se tivesse um controle maior, sobretudo no que diz respeito ao modo como são empregados os recursos repassados aos poderes. Digo aos poderes, porque num primeiro momento o cidadão costuma voltar os olhos apenas para o Poder Executivo.
É óbvio que é o Poder Executivo que detém o maior poder entre os três poderes constituídos, porque é para lá que convergem os recursos da arrecadação pública, de lá sendo encaminhados os repasses constitucionais para o Legislativo e para o Judiciário. Mas, não se pode deixar que esses dois trabalhem sem a vigilância do contribuinte, pois é freqüente ouvirem-se notícias de mau uso do dinheiro público pelos mesmos.
Uma coisa puxa outra. Exatamente por ter conhecido tão de perto os caminhos e os atalhos do Poder Executivo é que me sinto em condições de ratificar algumas coisas que defendia no passado e de rever alguns pontos de vista, posto que é próprio do ser humano rever seus conceitos, quando isso se faz necessário.
Hoje em dia entendo que a sociedade dispõe, sim, de mecanismos que poderiam ser eficazes para o controle do funcionamento da máquina pública em todos os seus níveis. O que está faltando é a gente prestar mais atenção nas decisões que tomamos na ocasião em que somos chamados para delegar poderes aos concidadãos que escolhemos para nos representar.
Qual é o sentimento que em nós desperta o ato de votar? Infelizmente, tem muita gente que acha isso uma grande chatice. Só vai votar porque se lembra que poderá precisar estar em dia com suas obrigações eleitorais. Obrigações, já que o voto e obrigatório no Brasil. Se não fosse, milhões não iriam votar.
Para mim, a pessoa que só vota por que o voto é obrigado, ou, simplesmente ignora o processo eleitoral e não comparece para votar é um cidadão que colabora para que a situação mude menos do que todos esperam. Além disso, não tem o direito de reclamar que o governo não está fazendo nada, ou está indo muito mal. Quem se decepciona com o candidato que ajudou a eleger pode evocar o direito de errar, inerente a todo ser humano. Quem é omisso não tem esse direito.
Outra questão diz respeito aos mecanismos de fiscalização, mais voltados para o Poder Executivo, pela razão precípua de ser esse o que tem a chave do cofre que guarda o dinheiro que é fruto dos impostos que pagamos. São eles, Câmara Municipal, Câmara Federal e tribunais de conta, dos municípios e dos estados.
A partir do momento em que votamos em qualquer porcaria de candidato, alguém sem escrúpulos, nem elevados princípios morais, estamos entregando a chave do galinheiro para a raposa tomar conta. Quando colocamos algum político ímprobo no Poder Legislativo, o que se pode espera que ele faça como nosso fiscal, alem de se locupletar? Nada. Pior é que muitos deles terminam trabalhando seus nomes para os tribunais de contas, e conseguem aprovação.
Numa palestra que fez em 2006 em Itaituba, foi perguntado ao ilustre tributarista Helenilson Pontes, num encontro realizado no salão de convenções do Hotel Apiacás, se ele considerava que o Congresso Nacional, bombardeado por denúncias de todos os lados, podia ser considerado o retrato da sociedade brasileira. Helenilson respondeu que o Congresso era, é e sempre será a cara da sociedade, que é quem o elege.
A Câmara Municipal de Itaituba tem a nossa cara. O mesmo pode-se dizer da Assembléia Legislativa do Pará. Eu posso até não ter votado em nenhum dos atuais vereadores ou deputados estaduais. Mas, alguém votou e eu faço parte desta sociedade. Não tenho o direito de achar que, na hipótese do candidato em quem votei não ter sido eleito, que eu nada tenho a ver com isso. Se não, eu não seria um democrata. Portanto, vamos parar de botar a culpa nos outros, pelos governantes ou legisladores que temos, no caso não estarmos satisfeitos com os mesmos, e vamos prestar mais atenção na próxima vez que entrarmos numa fila de votação, como vai ocorrer em outubro deste ano. Votar com a razão, não com o coração é o que deve ser feio por. Cada um de nós tem um pouco de culpa nisso tudo que está aí.

Br 163, uma aventura na selva amazônica

Aritigo do professor Jadir Fank

Com o avanço do desenvolvimento no Norte do Brasil, Governantes se sentiam obrigados a oferecer o mínimo de dignidade a esses brasileiros, isolados até então. Foram rasgadas diversas Rodovias Federais na mata amazônica, trazendo esperança de dias melhores a estes brasileiros. Assim surgiram duas das mais importantes rodovias federais na região. A BR 230 conhecida com Transamazônica, ou por muitos descrito como a Transamargura, pelas péssimas condições que oferece na maior parte do ano e durante quase todo período de sua existência, desde 1972 e a BR 163, famosa Santarém-Cuiabá, que liga o Norte ao Sul. Nesse período o Governo Federal incentivou brasileiros de outras regiões, para colonizar a Amazônia, usando inclusive uma celebre frase “integrar para não entregar”.
As famílias se instalaram a beira das rodovias, nos projetos de assentamentos do INCRA. Muitos não agüentaram o abandono e retornaram à suas origens, outros não resistiram às bruscas mudanças de região, e acabaram partindo dessa para melhor e os que ficaram, enfrentaram uma luta árdua e sobreviveram todos os obstáculos, mas sempre na esperança de dias melhores. Esses dias melhores estavam baseados em nossa Constituição Federal, o direito de ir e vir. Porém esse artigo da Constituição não vale para os brasileiros que vivem nas margens da BR 163. A mesma nessa época do ano é um descaso total, impedindo que os mesmos tenham o direito de ir e vir.
Escrevo sobre isso, pois vi de perto esta triste realidade, quando do retorno da Agrovila de Bela Vista do Caracol, distrito do Trairão, há apenas 130 km de Itaituba e 50 km da sede do Município. Às 4 horas madrugada do último dia 27 de maio, embarquei no microônibus que faz linha Caracol – Itaituba, a previsão de chegada ao Trairão, meu destino, era entre 5:30 a 6:00 horas da manhã. Não demorou mais do que 15 km essa expectativa, até enfrentar o primeiro dos quatro grandes obstáculos. Um atoleiro de grandes proporções, onde nada mais do 2 horas foram perdidas. O motorista do microônibus fazendo de tudo para reduzir o tempo de espera, mas não adiantava, o desgaste do motor era alto sem contar os pneus, que sofriam um desgaste acima do normal.
Ultrapassado esse obstáculo um pequeno alívio, que não durou muito, pois o que havíamos passado era galho fraco em relação ao que nos esperava. Todos tiveram que sair da condução, crianças, mulheres e homens. Os passageiros auxiliavam o motorista e seu ajudante. Enxadões foram utilizados, como se fossem máquinas arrumando a estrada, sem contar a força empregada pelos passageiros no sentido de empurrar o micro, como se fosse obrigação dos mesmos, só para ter o direito que lhes é assistido, o de ir e vir. Nada disso ajudou, foi necessária a utilização de um trator, que estrategicamente se encontra naquela região, nosso salvador da pátria, não só do Micro como dos caminhões, pois os que possuem carro baixo nem se arriscam enfrentar a BR.
Até o terceiro atoleiro o trator nos acompanhou, resolvendo facilmente a situação. Quando tudo parecia resolvido, estando apenas 15 km do Trairão, mais um atoleiro, onde o microônibus praticamente sumiu na lama e no buraco. Lá estavam os passageiros caminhando no barro, sujando seus calçados e roupas. O motorista sofrendo na tentativa de ultrapassar o obstáculo. Foi difícil e demorado, somente possível com a ajuda de uma Toyota Bandeirantes, que apareceu depois de um tempo, se assim não o fizesse não teria o direito de se deslocar. Quando ultrapassado esse último obstáculo, todos estavam aliviados, alguns já haviam perdidos compromissos assumidos mais cedo, mesmo assim todos comemoraram. Minha aventura terminou no Trairão. Exatamente as 9:00 horas da manhã, 5 horas depois da minha saída. Que País é esse! “Enquanto isso em Brasília ...”. Até a próxima.

Aleitamento materno

Fui mãe muito cedo. Mal tinha completado dezoito anos e já estava embalando meu filho Marcos Paulo nos braços. Não bastasse isso, sabia muito pouco dessa maravilha que atende pelo nome de maternidade. Fui muito pelo instante de mãe. A Natureza, a sempre sábia mãe Natureza, conduziu-me por suas mãos, determinando-me o que devia fazer.
Talvez se tivesse somente a Natureza como professora não tivesse cometido erros elementares nos primeiros meses de vida do meu primeiro filho. Dentre os muitos, certamente o maior foi não alimentá-lo exclusivamente com o leite originado no meu próprio corpo. “Esse menino não está se satisfazendo somente com o leito do teu peito”, dizia uma; “dá mingau para esse pirralho, pois ele chora de fome, porque o teu leite é fraco e não alimenta ele direito”, dizia outra. Por ignorância eu embarquei nessa e tive que lidar com alguns problemas de saúde de meu rebento, que não haveriam se ele só mamasse no peito.
Quase vinte anos depois voltei a ser mãe. O Parentinho, como a gente chama carinhosamente o recém chegado novo membro da família Parente veio cercado de muitos cuidados, mas, encontrou uma mãe muito mais preparada e pronta para não cometer os mesmos errados do passado. O principal deles, não me deixar convencer de que tenho que dar isso ou aquilo. Até mesmo o Jota Parente, pai muito mais experiente (quase vinte e três anos depois), tem me ajudado a superar esse desafio de seguir o que recomenda a Organização Mundial de Saúde, que é alimentar o filho somente com leite materno nos seis primeiros meses de vida.
Confesso que não tem sido fácil. O bombadeio de contra-informações é pesado. É impressionante o número de mães, com boa condição de vida, que eu imaginava melhor informadas, que insiste em complementar a alimentação do bebê com esse ou aquele tipo de leite. Tenho sido firme, falando na hora que ele só vai ter o leite materno como alimento, até bem mais tarde.
Muitas vezes dói o seio, sobremodo no começo da amamentação, mas, ver meu filho se desenvolvendo saudável, sem sentir uma dorzinha de barriga, compensa todo o sacrifício da mãe. Tenho certeza que com isso evitarei muitas visitas a médicos e a farmácias, além de incontáveis sustos.
O leite humano é muito diferente do leite adaptado (leite em pó). O leite materno contém todas as proteínas, açúcar, gordura, vitaminas e água que o seu bebê necessita para ser saudável. Além disso, contém determinados elementos que o leite em pó não consegue incorporar, tais como anticorpos e glóbulos brancos. É por isso que o leite materno protege o bebê de certas doenças e infecções.
O aleitamento materno protege as crianças de otites, alergias, vómitos, diarréia, pneumonias, bronquiolites e meningites Outras vantagens do leite materno para o bebâ são a melhora no desenvolvimento mental do bebé; O leite materno é mais facilmente digerido.
Amamentar promove o estabelecimento de uma ligação emocional, muito forte e precoce, entre a mãe e a criança, designada tecnicamente por vínculo afetivo.Atualmente, sabe-se que um vínculo afetivo sólido facilita o desenvolvimento da criança e o seu relacionamento com as outras pessoas. O ato de mamar ao peito melhora a formação da boca e o alinhamento dos dentes.
Amamentar tem vantagens também para a mãe. A mãe que amamenta sente-se mais segura e menos ansiosa; amamentar faz queimar calorias e por isso ajuda a mulher a voltar, mais depressa, ao peso que tinha antes de engravidar; ajuda o útero a regressar ao seu tamanho normal mais rapidamente; a perda de sangue depois do parto acaba mais cedo; a amamentação protege do cancro da mama que surge antes da menopausa, protege do cancro do ovário, protege da osteoporose; a amamentação exclusiva protege da anemia (deficiência de ferro). As mulheres que amamentam demoram mais tempo para ter menstruações, por isso as suas reservas de ferro não diminuem com a hemorragia mensal;
Amamentar também é vantajoso para a família. A amamentação é mais econômica para a família. Basta multiplicar o preço de uma lata de leite em pó, pelo número de latas necessárias ao longo da vida da criança, e somar ainda o dinheiro gasto em mamadeiras.
O leite adaptado (leite em pó) é muito diferente do leite materno e a sua utilização tem riscos para o bebê. Os leites artificiais usados habitualmente, são feitos a partir de leite de vaca. Por essa razão, o uso de leite artificial aumenta o risco de alergia ao leite de vaca. As crianças alimentadas com leite artificial têm maior risco de desenvolver linfomas, As crianças que são alimentadas com leite em pó têm maior risco de vir a sofrer de Diabetes tipo I (insulino-dependente).
As crianças que são alimentadas com leite artificial têm maior risco de sofrer obesidade na vida adulta, têm maior risco de desenvolver eczema, asma e outras manifestações de doença alérgica. A UNICEF calcula que um milhão e meio de crianças morrem por ano por falta de aleitamento materno. E não se pense que é só nos países do terceiro mundo. Mesmo nos países industrializados muitas mortes se poderiam evitar com o aleitamento materno. Portanto, você que foi mãe há poucos dias ou vai ser em breve, aprenda a lição que eu aprendi; dê o mais precioso dos alimentos para o seu filhinho, que é o leite materno, o seu leite. A vida, sua vida, a vida do seu filho agradecem agora.

Marilene Silva Parente

segunda-feira, junho 02, 2008

50 anos de garimpagem de ouro no Tapajós


Cinqüenta anos de garimpagem de ouro no Tapajós
Dono de uma memória privilegiada, José Carneiro da Silva, conhecido como José Come Vivo abre a serie especial que o Jornal do Comércio publica a partir desta edição, a qual se estenderá até a última edição deste ano do cinqüentenário da garimpagem de ouro no Tapajós. Encerrando a série, na última edição de 2008, será publicada uma edição especial do JC, com a compilação das matérias publicadas ao longo dos próximos meses. Através deste projeto, resgata-se e preserva-se um importante pedaço da história de Itaituba e de toda esta região do Tapajós, da qual muita coisa já se perdeu.
José Carneiro da Silva é um dos principais personagens do início da garimpagem de ouro na região do vale do Tapajós. Ele chegou a esta região em novembro de 1958, quando Nilçon Pinheiro já se encontrava explorando alguns grotões e produzindo muito, mas muito ouro.
Nascido no interior do município de Breves, José Come Vivo cresceu trabalhando em seringais, seguindo os passos do pai. Mas, desde cedo ficou fascinado com as notícias do dinheiro fácil que podia ser ganho em garimpos. Seu primeiro contato com a garimpagem aconteceu quando ele foi para Macapá para trabalhar na Icomi, conhecida mineradora americana que explorava uma mina de manganês no Amapá.
Na referida empresa ficou apenas alguns dias, pois muitos trabalhadores foram demitidos, dentre os quais ele. Estabeleceu contato com alguns homens que estavam indo para um garimpo na região do Rio Araguari, sendo esse o começo de sua longa história de ligação com a exploração mineral. Ficou empolgado quando os ouviu dizer que, no garimpo, quem não faturasse 500 cruzeiros por dia não estava fazendo nada. Nessa época um trabalhador recebia dezessete cruzeiros por uma diária na cidade. Essa tentativa deu um resultado razoável; ele ganhou um bom dinheiro, tendo decidido voltar para Belém. É partir daí que José Carneiro começa seu relato, no qual conta toda sua trajetória pelo vale do Tapajós.
“Ao voltar para Belém ouvi notícias sobre a descoberta de garimpos de ouro no Tapajós. Só se falava em Jacareacanga naquela época. No mês de novembro de 1958 eu embarquei no navio Tavares Bastos, determinado a chegar ao garimpo e a encontrar ouro. Fiquei alguns dias em Santarém, de onde segui no mesmo navio para Itaituba, pois como era período de verão ele não chegava a São Luiz do Tapajós, o que só acontecia quando o rio estava cheio. Cheguei por volta do dia 20 de novembro, tendo permanecido aqui por vinte dias.
Os padres tinham um barco de nome “Cor Jesu”, no qual fomos para São Luiz do Tapajós, onde ficamos mais uma temporada, tendo passado Natal e Ano Novo lá. Nessa época o Nilçon Pinheiro, que foi o desbravador dessa região de garimpo, já estava tirando ouro. Ficamos parados em São Luiz por um bom tempo porque não havia transporte para a gente subir. Chegamos dia 5 de dezembro, permanecendo lá até o dia 2 de janeiro de 1959, quando finalmente subimos. Mais de cem homens querendo ir, mas só existiam duas lanchas pequenas que subiam o Tapajós. Uma era a Ida e a outra eu não lembro o nome. Quem ajudou a gente a conseguir embarcar foi o seu Vivaldo Gaspar, com o qual fizemos amizade. Era difícil falar com o velho Roque Pinto e o Zé Bonitinho, que comandavam o movimento comercial na época, os quais poderiam resolver logo o nosso problema.
Eu e mais três companheiros formávamos uma equipe. Pedro Paraíba, Pacheco e seu Manuel eram os outros três. Subimos com destino a São Martins, na Boca das Tropas. Nisso soubemos do início da fofoca no Cuiu-Cuiu e nós resolvemos ficar num lugar chamado Marrafo, em frente à boca do Crepuri. O Nilçon estava começando o trabalho no Cuiu-Cuiu e nós decidimos ir até lá; ele tinha encontrado as primeiras grotas. A gente quis ficar trabalhando com o Nilçon, mas ele disse que não nos queria por lá porque éramos garimpeiros mansos e todo garimpeiro manso era ladrão.
Pegamos um barco de nome Arruda Pinto e fomos para o lugar chamado São Martins, primeiro destino de nossa viagem. Lá encontramos um velho, conhecido por Portuguesinho, que era muito prestativo. Fomos sondar uma grota que havia lá, mas, que já tinha sido explorada pelo Nilçon Pinheiro. Essa foi a primeira exploração na qual ele acertou em cheio; foi onde tudo começou de fato a tirar ouro. Naquele lugar ele tirou ouro, muito ouro, ainda em 1958. De lá, em 1959 ele foi para o Cuiu.
No São Martins eu conversei com um seringueiro, que foi quem encontrou a primeira mina de ouro no Tapajós, o qual me contou como tudo tinha começado e quem começou a exploração do ouro. Segundo ele me contou, o Nilçon começou explorando na cabeceira do Rio Muiuçu, na região do Abacaxi, perto da fronteira do Pará com o Amazonas, conseguindo tirar um pouco de ouro. Mas, era um ourinho pouco, vinte gramas, trinta gramas. Nessa região havia muitos seringueiros, que eram pessoas que andavam muito. Foi através desses seringueiros que o Nilçon fez contato com Jacareacanga, onde passou a buscar seu rancho. A distância para a cidade era de mais ou menos um dia de viagem, de canoa.
Na primeira viagem que fez a Jacareacanga Nilçon conheceu Raimundo Ferreira um seringueiro que trabalhava num seringal, na Boca do Rio das Tropas. Esse seringueiro resolveu acompanha-lo até o garimpo, onde permaneceu por dez dias, observando como tudo acontecia. Ele conseguiu uma cuia e uma bateia e se mandou de volta para o seringal. No caminho ele passava, todos os dias, por dentro de uma grota, que ele cavou, botou a terra dentro da bateia, tendo encontrado pedaços de ouro de vários tamanhos. Aí, ele fez uma caixinha igual a que o Nilçon usava, chamada de lontona e começou a puxar terra e lavar, encontrando ouro com facilidade, que ele colocou dentro de latas de leite ninho. Encheu três latas e meia, somente de pedaços de ouro. Mas, ele não sabia como descarregar a lontona. Então ele foi lá com o Nilçon para que ele o ajudasse.
Quando o Nilçon viu o que o Raimundo Ferreira tinha conseguido, botou para comprar o garimpo. Na ocasião ele deu cem mil cruzeiros, que eu não faço a menor idéia de quanto seria hoje em dia, um motor penta 4,5 e um rádio Philco Transglobe. No Negócio, o Nilçon ficou com todo o ouro que o Raimundo Ferreira tinha conseguido. O Raimundo não fazia a menor idéia do valor do ouro. Achou que tinha feito um bom negócio.
Depois de comprar o garimpo Nilçon foi para Manaus para fazer compras, tendo voltado da capital do Amazonas num barco grande, comprado com o dinheiro apurado com a venda do ouro que tinha entrado no negócio com o Raimundo Ferreira. Como onde estava o ouro nesse garimpo que ele havia terminado de comprar não havia água para lavar a terra, Nilçon colocou mais de cem homens para carregar o material para a beira do Rio das Tropas em latas de querosene, de vinte litros. O ouro começou a aparecer em grandes quantidades. Eu mesmo não cheguei a ver, mas, ouvi muitos garimpeiros dizerem que nesse tempo o Nilçon conseguiu encher de ouro latas e latas de vinte litros.
A partir do momento em que começou a escassear o ouro das Tropas, o Nilçon mandou pesquisar a região do Cuiu-Cuiu. Não demorou para que fosse encontrado o minério no local. Pouco tempo depois que o Nilçon começou a trabalhar lá, eu cheguei, mas não fiquei, como já disse.
Por ocasião de nossa estada na Boca das Tropas eu conheci um seringueiro que trabalhava na região do Pacu. Por meio das informações desse seringueiro a gente seguiu com ele para o são José. Nossa equipe tinha cinco pessoas, à qual se juntaram mais um genro e um filho dele. Começamos a trabalhar e com oito dias já tínhamos mais de 800 gramas de ouro.
Havia muito ouro. A dificuldade era encontrar mercadoria para comprar. Por isso, poucos meses depois que começamos a trabalho pedimos para um dos companheiros, o Araújo, ir a Santarém para fazer uma grande compra, que permitiria que a gente pudesse trabalhar por um bom tempo. Escolhemos o Araújo por ter maior conhecimento de Santarém. Ele levou oito quilos de ouro.
Ao chegar Santarém ele se empolgou. Depois de beber algumas pingas, terminou se envolvendo numa briga, na qual ele atirou na perna de um cara. O Araújo foi preso e para sair gastou quase todo o ouro que tinha levado. Voltou sem quase nada. Isso gerou um atrito muito forte com outro companheiro de trabalho, o Pedro Paraíba. Os dois estiveram perto de se matar. A gente conversou e concordou que a melhor coisa a fazer era dividir a equipe. Assim foi feito. Dividimos a terra, que dava para todos trabalharem.
Depois da divisão, não demorou muito tempo para a gente fazer um bom ouro. Minha turma conseguiu uns dez quilos de ouro em nossa área. A essa altura eu resolvi que era hora de dar um pulo em Belém para visitar a família, que eu não via há mais de um ano. A minha parte nos dez quilos foi de um pouco mais de três quilos de ouro. Deixei um quilo de ouro guardado com o velho Roque, em São Luiz do Tapajós, deixei um quilo com a Dona Ditosa, esposa do seu Duarte, em Santarém e levei um quilo e 50 gramas para Belém, onde vendi o grama por 92 cruzeiros. Era o segundo semestre de 1960”.
Na próxima edição o leitor saberá o que se podia comprar com um grama de ouro nessa época da qual discorre José Carneiro, saberá da expansão das suas frentes de trabalho, de como começou o garimpo do Marupá, começo do trabalho com maquinário etc.
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O Jornal do Comércio, através do blog, agradece ao amigo Rildo Serrão, gerente da Ouro Minas, na travessa João Pessoa, que acreditou no nosso projeto e a partir da próxima edição já estará patrocinando essa série especial de reportagens sobre o cinquentenário da garimpagem de ouro no Tapajós.
É com o incentivo publicitário de gente como você, Rildo, da empresa que você muito bem representa, a Ouro Minas, que encontramos força e determinação para realizações como esta, que visa a resgatar a memória, ou pelo menos, uma parte dela que ainda não se perdeu, nessa história tão rica. Esperamos receber apoio de outras empresas, porque esse projeto é muito mais abrangente. Na hora certa diremos o que mais vem por aí.
Jota Parente

O Jornal do Comércio vai circular amnhã cedo

Eis alguns destaques

Informe JC

Mais uma da Celpa I
As faturas de energia elétrica fornecida para as residências rurais viraram um problema para esses consumidores. Tudo porque a empresa resolveu, por conta própria, que não deve mais entrega-las de casa em casa. A Celpa reúne todas as que fazem parte de uma comunidade e entrega para apenas uma pessoa, de preferência para o presidente da associação comunitária para que ele se vire, fazendo chegar a cada um morador a referida conta.

Mais uma da Celpa II
O vereador César Aguiar foi procurado em seu gabinete por diversas lideranças do interior, as quais pediram ajuda da Câmara Municipal de Itaituba contra isso, que é um abuso da empresa. César informou à coluna que um presidente de comunidade, Gilmar Spies, pessoa esclarecida, simplesmente se recusou a receber um pacote com mais de cem faturas, as quais a Celpa queria que ele entregasse. Já não bastam os problemas que o consumidor tem com essa concessionária, e ainda aparece mais esse.

O que isso, vereadores?
Tem sessão da Câmara Municipal de Itaituba, ultimamente, que tem durado pouco mais de meia hora. Em muitas deles alguns vereadores demonstram um misto de apatia e indiferença. O número de requerimentos apresentados tem estado bem abaixo da produção costumeira dos edis. Basta olhar para a quantidade de pessoas que tem comparecido à Casa de Leis, ultimamente. Há dias em que dá para contar nos dedos de uma mão. Não se pode dizer que isso esteja acontecendo apenas por causa da eleição. Ou será que a ameaça de voltar que paira sobre alguns, ou sobre muitos está provocando esse estado de letargia?

Estrada péssima I
Na região de Trairão e Caracol continuava chovendo bastante até semana passada. Com isso, as viagens por via terrestres estavam ainda muito complicadas. O professor Jadir Fank, diretor da FAT, que o diga. Ele saiu terça-feira às 5 horas da manhã de Caracol, com destino a Trairão, em um microônibus, juntamente com outros passageiros.

Estrada péssima II
A jornada que deveria durar pouco mais de uma hora só terminou às 9 horas da manhã, cinco horas depois de iniciada. Enquanto isso, o nosso querido governo federal continua discutindo o sexo dos anjos com referência a um interminável estudo de impacto ambiental da obra, que terminou e foi reiniciado algumas vezes. Fernando Henrique prometeu e não cumpriu; Lula prometeu e parece que também não vai cumprir. Vamos aguardar o próximo promesseiro.

Quanto mais, melhor
O pré-candidato Valmir Climaco (PMDB) pratica a política do QUANTO MAIS, MELHOR. Ele tem conversado com muitos partidos, convidando-os para a aliança que pretende formar visando ao pleito de outubro. Há poucos dias ele teve uma reunião com o vereador Paulo Gasolina, presidente do Democratas, de Itaituba. O encontro aconteceu na residência do empresário Iraldo Aguiar, na estrada do DNER. Nada ficou definido, porém, ficou no ar a interrogação que Paulo ainda não respondeu sobre em que palanque vai estar na eleição, pois atualmente faz parte da base de apoio do prefeito Roselito Soares.

Até dia 30...
Está aberta a temporada de convenções partidárias para a confirmação dos candidatos a prefeito, vice e a vereadores. Por enquanto só há especulação a respeito das datas escolhidas pelos partidos ou grupos. No PMDB joga-se com duas datas. Tem gente defendendo o dia 22, mas tem quem prefira o dia 29 de junho. O último prazo é 30 de junho.

Concurso da PM I
A Polícia Militar está fazendo um levantamento detalhado sobre o tamanho do efetivo que necessita o 15º Batalhão de Polícia, sediado em Itaituba. Tem uma equipe fazendo esse trabalho, percorrendo os órgãos públicos do município em busca de informações oficiais. De posse de tais informações é que o governo do Estado vai estabelecer quantas vagas serão destinadas especificamente para Itaituba, pois no próximo concurso haverá vagas determinadas para este município.

Concurso da PM II
Isso significa que quem fizer o concurso já vai fazer a prova sabendo que seu local de trabalho será o 15º Batalhão de Polícia Militar, em Itaituba. O militar engajado nessas condições poderá servir em qualquer lugar sob a jurisdição do 15º BPM. Como não esse tipo de concurso há mais de dez anos, essa providência vai colocar um fim no dilema do comando, que se vê às voltas com sucessivos pedidos de transferência de militares.

Liminar
A Prefeitura de Itaituba, através de sua Procuradoria Jurídica, conseguiu uma liminar na Justiça, a qual impediu que fosse fechado o lixão de Curral Redondo. O fechamento ocorreria ontem e os moradores avisaram que fariam isso. Embora o terreno onde esteja localizado o lixão pertença à comunidade, a Justiça entendeu que haveria um grande prejuízo para a população da cidade de Itaituba e levando em conta esse fato de interesse público concedeu a liminar. O novo terreno já foi adquiro há quase dois meses, mas falta a licença ambiental e faltam outras providências legais para que o mesmo possa ser utilizado.

Priante visita Itaituba e reune com Valmir e Edir


O ex-deputado federal José Priante, presidente do Diretório Municipal do PMDB de Belém na primeira foto ao lado do presidente do Diretório do PMDB de Itaituba, Wilmar Freire, esteve visitando Itaituba no final da tarde de domingo, 1º de junho. Ele participou de um jantar oferecido pelo empresário Valmir Climaco, no qual estiveram diversas lideranças políticas de Itaituba e de Trairão.
Priante disse para a reportagem do Jornal do Comércio que está visitando os municípios desta região com o objetivo de verificar como está acontecendo a construção das candidaturas do partido em cada um deles, seja onde o PDMB vai ter candidatura própria, ou onde vai compor com outro partido.
No caso de Itaituba o ex-deputado falou que seu partido tem uma situação muito bem consolidada com a pré-candidatura de Valmir Climaco, que segundo ele tem condições muito favoráveis para ganhar a eleição de outubro próprio.
O fato de ter concorrido ao governo do Estado na eleição passada fez com que o PMDB crescesse muito em todo o Pará, segundo afirmou. São mais de 90% de municípios paraenses que contam com diretórios do PMDB. Também falou que a aliança com o PT resultou na derrubada da oligarquia (PSDB) que vinha comandando o Estado há mais de uma década, o que foi muito positivo para seu partido. Falou também sobre o que espera do PT na próxima eleição.
“O que nós fizemos para PT, dando oportunidade para que Ana Júlia Chegasse ao governo tem um preço impagável. Portanto, gostaríamos de ter a solidariedade do PT em vários municípios, entre eles Itaituba. Esta é a nossa posição política com relação ao governo Ana Júlia, com relação ao Partido dos Trabalhadores. Da mesma forma que a Maria do Carmo quer o nosso apoio em Santarém, nós queremos a solidariedade do Partido dos Trabalhadores em Itaituba, em Belém, no momento em que o PMDB me convoca para o desafio de ser candidato a prefeito na capital. Eu fico extremamente satisfeito de ver que há uma situação extremamente confortável em Itaituba”, disse José Priante.
Ele disse que em nível de diretórios estaduais existem negociações para que PMDB e PT caminhem juntos na eleição de Itaituba. Lembrou que este é um momento de muita conversa, de muito convencimento, até porque o prazo só se esgota no último dia de junho e que a eleição deste ano não é o final, mas, o meio da jornada para 2010, quando vai haver eleição para o governo do Estado. Deixou claro que, se há interesse na permanência da aliança entre os dois partidos, isso passa pela eleição de 2008. José Priante confirmou que é pré-candidato a prefeito de Belém, atendendo ao chamado de seu partido.
Reunião com Edir e Valmir – Priante sentou com o médico Edir Pires, um dos mais disputados nomes para vice, que esteve presente ao jantar que aconteceu na residência de Valmir Climaco. Durante alguns minutos Edir, Valmir e Priante conversaram juntos, não tendo sido revelado o teor do que foi tratado. Isso foi motivo suficiente para levantar as especulações de que Edir já estaria decidido a acompanhar Valmir na eleição, talvez como vice, embora se saiba que muita coisa ainda vai acontecer até 30 de junho.
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domingo, junho 01, 2008

Reflexões sobre política, para o seu domingo

A habilidade específica do político consiste em saber que paixões pode com maior facilidade despertar e como evitar, quando despertas, que sejam nocivas a ele próprio e aos seus aliados.

Na política como na moeda há uma lei de Gresham; o homem que visa a objetivos mais nobres será expulso, exceto naqueles raros momentos (principalmente revoluções) em que o idealismo se conjuga com um poderoso movimento de paixão interesseira.

Além disso, como os políticos estão divididos em grupos rivais, visam a dividir a nação, a menos que tenham a sorte de a unir na guerra contra outra. Vivem à custa do «ruído e da fúria, que nada significam». Não podem prestar atenção a nada que seja difícil de explicar, nem a nada que não acarrete divisão (seja entre nações ou na frente nacional), nem a nada que reduza o poderio dos políticos como classe.

Bertrand Russell, em 'Ensaios Céticos: A Necessidade do Cetismo Político'
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Tenham todos um ótimo domingo, com a chuva que cai em Itaituba e tudo.