Eu já não sei se o que mete mais medo,
neste momento, é a pandemia do coronavírus, ou as consequências imprevisíveis dos
atos inconsequentes do presidente da República, Jair Bolsonaro. Confesso que
fiquei assustado com os últimos acontecimentos.
Ontem, o presidente fez uma vídeo conferência
com os governadores, acertando pontos importantes para que todos falassem a
mesma linguagem no combate ao coronavírus. Hoje, veio ao rádio e à televisão
fazer um pronunciamento, com outro discurso. Não é para ficar preocupado?
Quando o brilhante jurista Miguel Reale Júnior
pediu ao Ministério Público, que requeresse que o presidente fosse analisado
por uma junta médica de especialistas, para saber se ele tinha sanidade mental suficiente
para ser o mandatário máximo do país, sabia muito bem o que estava fazendo. O comportamento
dele leva a esse tipo de juízo.
Não comparemos o Brasil com a Itália, como
disse Bolsonaro, nem com a Espanha, nem com a França, que ficam no velho continente,
mas, mesmo ficando no hemisfério Norte, não é plausível deixar de olhar para os
Estados Unidos. Lá, os americanos estão sendo colocados em quarentena, de
acordo com a necessidade.
Pode até ter um pouco de razão quem reclama que
fechamos tudo de uma vez. Porém, o vírus espalhou-se relativamente rápido pelos
estados. Dadas as nossas diferenças, sobretudo no que tange às condições dos
setores de saúde e na economia, não podemos seguir exatamente a mesma receita
da parte de cima da América.
Nos Estados Unidos não há serviço público de
saúde, como no Brasil, mas, o país tem muito dinheiro, e o Congresso discute a aprovação
de U$ 1,8 trilhão para injetar na economia americana, de acordo com o andamento
da situação. Eles fazem isso desde a grande depressão dos anos 1930, que
começou com a quebra da bolsa de Nova York no dia 24 de outubro 1929.
Aqui, reação dos governadores à fala do
presidente Jair Bolsonaro, hoje à noite, foi rápida como tinha que ser. No
final da história, quem vai estar diretamente administrando o cenário de caos,
se não for feito tudo certo serão os governadores e os prefeitos.
Os Estados Unidos tem um presidente (Donaldo
Trump), que também fala besteira quando resolve discursar sobre assuntos que
não conhece, como seu colega Jair Bolsonaro. A diferença é que, com
instituições muito mais sólidas, as autoridades de saúde não são desautorizadas
por seu presidente.
Os americanos tem Anthony Stephen Fauci, que
sabe bem como tratar os presidentes. Diretor do Instituto de Alergia e Doenças
Infecciosas desde 1984, já trabalhou com seis governos diferentes. Hoje ele é
considerado a maior autoridade mundial em sua área. E mesmo quando diverge,
como está em matéria publicada hoje no blog do Jota Parente, o presidente não o
tira do cargo por birra. O bem comum fala mais alto por lá.
Triste povo brasileiro, que se colocou numa sinuca
de bico na eleição presidencial de 2018. Dos dois que restaram, um representava
o maior assalto aos cofres públicos nunca antes visto na história deste País,
como diria Lula; o outro era o salvador da pátria, que na maioria das vezes não
dá certo.
Mais uma vez, deu errado. E hoje, o Brasil é um
corpo que sofre porque a cabeça tem sérios problemas cognitivos.
Jota Parente