sexta-feira, julho 16, 2021

Com vacinação estagnada e variante Delta, casos de Covid nos EUA aumentam 121% em duas semanas

Mortes crescem 9%, mas 97% das novas internações são de pessoas não vacinadas, segundo autoridades; Los Angeles volta a tornar uso de máscara obrigatório em espaços fechados

Os casos de Covid-19 voltaram a crescer nos Estados Unidos, impulsionados pela variante Delta e por uma campanha de vacinação que perde fôlego apesar da abundância de doses. O país viu um aumento de 121% nos novos diagnósticos e de 9% das mortes em 14 dias, concentrados em regiões onde a imunização está abaixo da média nacional, mas não restrita a elas.

Hoje, em média, 28,3 mil americanos são infectados e 280 morrem diariamente por causa da doença. Os novos diagnósticos cresceram em todos os 50 estados nas últimas duas semanas, mais que dobrando em 22 deles. Há surtos localizados em parte do Sul, do Meio-Oeste e em condados com baixas taxas de vacinação.

Em regiões do Missouri, onde apenas 40% da população receberam as duas doses, não há mais leitos de hospital, e autoridades pedem centros de tratamento adicionais. No Arkansas, as novas infecções diárias passaram de menos de 200 por dia, no início do mês, para mais de mil.

Em Los Angeles, o condado mais populoso dos EUA, o governo anunciou que vai voltar a exigir o uso de máscaras em espaços fechados a partir de sábado, independentemente de as pessoas estarem ou não vacinadas. A decisão veio após a cidade registrar mais de 1,5 mil casos na quinta, pouco mais de um mês após a Califórnia, onde 51% da população já tomou as duas doses, suspender todas as restrições e medidas de distanciamento ainda em vigor.

A vacinação, contudo, faz com que o cenário atual seja bastante diferente do visto no ápice da pandemia, em janeiro, quando 250 mil americanos eram diagnosticados diariamente. Ao menos 55,8% da população dos EUA já tomaram uma dose da vacina anti-Covid, enquanto sao 48,3% os totalmente vacinados — seja com as duas injeções da Moderna e da Pfizer-BioNTech ou com a dose única da Janssen.


'Pandemia dos não vacinados'

Segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), 97% das novas internações, que aumentaram 26% na última quinzena, são de pessoas ainda não inoculadas. Em uma coletiva nesta sexta, a diretora do órgão, Rochelle Walesnky, disse que a Covid-19 está se tornando, em território americano, "uma pandemia dos não vacinados".

As três vacinas aplicadas no país, apontam testes preliminares, são eficazes contra a cepa Delta, cerca de 60% mais contagiosa e responsável por 57,6% dos novos casos no país. Se, em abril, os EUA chegaram a vacinar, no entanto, uma média de quase 3,4 milhões de pessoas por dia, hoje aplicam apenas 530 mil injeções diárias.

Não se trata de uma escassez de doses, como em boa parte do planeta. O que faltam são braços dispostos, e nem mesmo prêmios em dinheiro vivo, sorteios ou cervejas e donuts gratuitos vêm sendo suficientes para levá-los aos postos de vacinação.

Até hoje a Casa Branca não conseguiu bater a meta anunciada pelo presidente Joe Biden em maio, que almejava aplicar ao menos uma dose em 70% da população adulta até 4 de julho: apenas 67,9% dos americanos com mais de 18 anos foram vacinados. Em 12 dias, a taxa avançou apenas 0,9 ponto percentual.

Nesta sexta, Biden sugeriu que a culpa é das plataformas de mídias sociais, nas quais circula desinformação sobre a pandemia e vacinas.

— A única pandemia que temos é entre aqueles que não foram vacinados. Eles [as redes sociais como o Facebook] estão matando pessoas — disse o presidente americano ao ser questionado por jornalistas antes de deixar a Casa Branca.

Estudo mostra que no máximo 7% do nosso genoma é exclusivamente humano

Pesquisadores da Universidade da Califórnia dizem que mutações começaram há 600 mil anos e que cruzamentos com os Sapiens que saíram da África ocorreram no Oriente Médio, com Neandertais, e no Sudeste Asiático, com Denisovanos

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia revela que apenas de 1,5% a 7% do genoma humano moderno é exclusivamente humano. A descoberta, publicada nesta sexta-feira na revista Science Advances, foi feita a partir da análise de genomas Neandertal, Denisovano e humano.

O estudo fornece ainda evidências de quando ocorreram essas mutações que hoje são exclusivas do genoma humano: elas começaram há 600 mil anos, e, em sua maioria, foram relacionadas ao desenvolvimento do cérebro, do sistema nervoso e de regiões regulatórias, importantes por ser as que regulam boa parte dos genes e provocam mudanças sutis.

A professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo Tábita Hünemeier afirma que o estudo é muito importante por responder a duas dúvidas centrais dos cientistas:

— Sabemos que há genes neandertal e denisovano em todos os não africanos. Mas não sabíamos qual a porcentagem do DNA humano que não veio nem de uma origem comum (Homo Erectus) nem de um cruzamento com essas outras espécies — afirma. — Agora também sabemos onde ocorreram os cruzamentos com os Sapiens que saíram da Africa: no Oriente Médio com Neandertais, e no Sudeste Asiático, com Denisovanos.

O estudo também sugere que pelo menos uma onda de Neandertais se misturou com os ancestrais humanos de todos os não-africanos. Além disso, foram encontradas regiões genômicas Neandertais e Denisovanas exclusivas das populações da Ásia meridional.

Os cientistas não conseguiam determinar quais genes do humano moderno foram transmitidos de nossos ancestrais hominídeos e quais são exclusivamente nossos. As novas descobertas foram obtidas com a criação de um algoritmo computacional que quantifica e compara diferenças de um genoma de referência humano para outros genomas:

— São dados novos e ferramentas novas de análise — explica Michel Naslavsky, professor do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva, do Instituto de Biociências da USP. — Nossa espécie Homo Sapiens não tem ancestralidade de espécie única. Já é uma mistura, com introgressão (transferência de genes de uma espécie para outra) e diferenças entre populações.

Fonte: O Globo

21 de julho, Dia do Garimpeiro. Live para falar da regularização, com a participação do presidente da ANORO, Dirceu Frederico


Clique no link abaixo.

 







Golpe mortal na economia regional, se Justiça acatar recomendação do MPF sobre o garimpo

Jota Parente
  Muitas ações do Ministério Público Federal concernentes ao garimpo são pertinentes porque visam ao respeito ao meio ambiente e ao combate à prática do descaminho do ouro e ao seu uso para lavagem de dinheiro de diversas origens ilegais, incluindo o que vem do tráfico de drogas.

         Uma coisa é combater a ilegalidade, outra coisa completamente diferente é querer paralisar a atividade de garimpagem de ouro, que equivale matar o doente para curar a doença.

         Hoje existem quase 800 PLGs em vigor na Reserva Garimpeira do Tapajós. 780 para ser exato. Se não existem mais é porque a União não ajuda. E o MPF está querendo que a Justiça Federal casse todas elas, que no entendimento do órgão, é a maneira mais eficaz para acabar com todos os problemas relacionados com essa atividade.

         Os senhores procuradores da República Federativa do Brasil, encastelados em seus amplos escritórios com ar-refrigerado, em Belém e em Brasília, tomam decisões baseadas nas informações que lhes são passadas por órgãos de fiscalização, que só vão ao garimpo esporadicamente, somente para ações repressivas. Nunca colocaram os pés na lama de um barranco.

         Os garimpeiros, até mesmo aqueles de maior poder aquisitivo, são a parte mais fraca da corda. Logo, é mais fácil e mais conveniente agir contra eles. Rende notícias na mídia nacional, que até hoje, só foi ao garimpo para produzir informativos sensacionalistas, alguns totalmente deturpados a propósito.

         No garimpo vivem milhares de brasileiros de todas as partes, que além de tirarem o seu sustento desse trabalho, ajudam grandemente a manter aquecida a economia de toda a região Sudoeste do Pará. Impedir que eles trabalhem será um golpe mortal para municípios como Itaituba, Novo Progresso, Trairão e Jacareacanga.

         Antes da BR 163 começar sua influência no crescimento da população da região, foi o garimpo que trouxe um grande contingente de pessoas de todas as regiões do país, que passaram a povoar as comunidades garimpeiras

         Quando eu me refiro ao garimpo, estou falando dos locais onde é permitido trabalhar legalmente. Se nessa área chamada de área branca, tem gente que trabalha de forma irregular, é porque o ente governamental federal sempre foi ausente. Sua presença só se nota através de ações de repressão.

         Eu sempre fui um legalista, por isso, jamais defendi ou defenderei o direito de pessoas trabalharem em áreas onde é proibido explorar, como em terras indígenas e em parques nacionais. Proibido é proibido e ponto final. E enquanto não mudar a lei, a União tem que cumprir o que está escrito na Constituição.

         Mas, voltemos ao MPF que quer parar tudo. Por quê os procuradores não usam os canais que dispõem, para recomendar à Justiça para que pressione o governo federal para ser mais ágil no processo de regularização da atividade garimpeira?

O órgão estaria prestando um grande serviço, tanto para a economia regional, quanto no aspecto social, evitando que dezenas de milhares de pessoas possam ser grandemente prejudicadas nessa cadeia produtiva.

Foi por causa de um estudo inédito feito por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em cooperação com o MPF, que apontou que, apenas em 2019 e 2020, três municípios (Itaituba, Novo Progresso e Jacareacanga) concentraram 85,7% das ocorrências de esquentamento de ouro no país, prática em que o minério extraído ilegalmente é comercializado com base em declarações fraudulentas de origem, que essa decisão do MPF foi tomada. De acordo com o estudo, foram 5,4 toneladas de ouro ilegal que entraram no sistema financeiro dessa maneira nos últimos dois anos.

         Por causa disso, o Ministério Público Federal (MPF) iniciou processo na Justiça Federal de Itaituba pedindo a suspensão de todas as permissões para extração, comércio e exportação de ouro na região sudoeste do Pará, que abrange os municípios de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso, onde, nos últimos dois anos, uma escalada de invasões e violências foi promovida por quadrilhas de garimpeiros ilegais, como está escrito na recomendação do MPF. Afetando gravemente terras indígenas dos povos Munduruku e Kayapó, o garimpo criminoso fez da região a principal fonte de ouro ilegal no país, ainda segundo o MPF afirma.

         É ou não é uma tentativa de matar o doente, o garimpo, para curar as doenças provocadas por ele, que vão da extração de ouro em áreas proibidas por lei, ao esquentamento do metal no mercado brasileiro? O MPF não leva em conta quem trabalho em área onde a lavra é permitida.

         Mais uma vez eu ressalto, que se o garimpo ilegal existe, e sabe-se que existe, a única culpa é da União. Não é culpa apenas desse governo atual. É de todos os governos que já passaram pelo Palácio do Planalto, incluindo o atual. É preciso olhar para quem ajuda esse país a crescer.

 

VÍDEO: Acidente com torre de transmissão deixa sete mortos e pelo menos cinco feridos no Pará

Estrutura estava sendo construída na comunidade Bom Jardim, entre os municípios de Anapu e Pacajá, no sudeste paraense

Um acidente com uma torre de transmissão de energia elétrica deixou sete pessoas mortas e pelo menos outras cinco feridas na tarde desta sexta-feira (6), entre os municípios de Anapu e Pacajá, no sudoeste paraense. Segundo informações da Secretaria Municipal de Pacajá, a estrutura estava sendo construída na comunidade Bom Jardim. Ainda não há maiores informações sobre o estado de saúde dos feridos. Um vídeo foi gravado após o acidente.https://youtu.be/90USv8KYXJw

Seis vítimas morreram na hora do acidente, e uma chegou a ser socorrida e encaminhada ao Hospital Municipal, mas morreu ao dar entrada na unidade de saúde. Outras cinco pessoas ficaram feridas e foram socorridas.

O governador Helder Barbalho informou que todos os feridos estão sendo encaminhados para o Hospital Regional da Transamazônica, em Altamira.

Fonte: Amazônia

terça-feira, julho 13, 2021

Militares: Não contem com as Forças Armadas para golpes

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro e o ministro, general Walter Braga Netto, sobem o tom, os generais de quatro estrelas que compõem o Alto Comando veem com clareza o que milhões de brasileiros veem e também criticam o presidente

*Eliane Cantanhêde

Os militares da ativa podem reclamar do Supremo daqui, criticar o Congresso dali, mas dez entre dez oficiais da ativa rebatem firmemente qualquer possibilidade de as Forças Armadas participarem de algum tipo de golpe, como impedir as eleições. "Isso é coisa do Bolsonaro, não tem nada a ver conosco", dizem todos, com a mesma convicção.

O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Oliveira, está numa situação delicada, entre o Planalto e a Defesa, de um lado, e o Alto Comando, do outro. 

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro e o ministro, general Walter Braga Netto, sobem o tom, os generais de quatro estrelas que compõem o Alto Comando veem com clareza o que milhões de brasileiros veem e também criticam Bolsonaro. Eles também são cidadãos, ouvem, veem, leem. E acham um absurdo os ataques do presidente a vacinas e máscaras, por exemplo.

Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil, é considerado "cada vez mais bolsonarista" e identificado com o discurso belicoso do presidente, assim como os oficiais da reserva, apelidados ironicamente de VIP (valentões, inteligentes patriotas). Mas não encontram eco entre os quatro estrelas da ativa, que não querem confronto com o Planalto, até porque podem estar de olho numa boa embaixada ou uma gorda estatal quando passarem para a reserva, mas sem essa de golpes.

A ele, Braga Netto, a Bolsonaro e aos generais do Planalto é atribuída a nota contra o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz, construída num pingue-pongue entre as três forças e a Defesa e entre a Defesa e o Planalto. As versões mais amenas, do Exército e da Marinha, foram esquentadas no Planalto, que queria uma ameaça até mais dura contra Aziz. No fim, a nota é um desastre e termina enigmaticamente: "As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições". Se não, o quê?

O general Paulo Sérgio também agiu como bombeiro no dia seguinte, ao ligar para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, logo após o próprio Braga Netto, e dizer que a intenção não era atacar o Congresso. Na outra ponta, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr., em entrevista ao jornal O Globo, disse que "homem armado não ameaça" e definiu a nota: "É um alerta. Nós não enviaremos 50 notas para ele (Omar Aziz), é apenas essa."

Soou assim: militares não ameaçam, agem. E o "alerta" pareceu coisa de pai bravo: "Não vou avisar de novo. Da próxima vez, você vai ver". Uma forma autoritária e inadequada de se referir a um senador, presidente de uma CPI e que, aliás, não agrediu as Forças Armadas coisa nenhuma. Só citou um fato: há militares envolvidos em erros e outros em mutretas com as vacinas. O comandante da Marinha avalizou a entrevista no twitter. O do Exército ficou na dele, não tocou no assunto.

Braga Netto era da Casa Civil até 29 de março e dava ordens a Pazuello e a seu secretário executivo, o coronel da reserva Elcio Franco. Em 6 de março, Franco pediu à empresa Precisa mais 50 milhões de doses da Covaxin, além dos 20 milhões já negociados. A Precisa tem má reputação, a Covaxin não é autorizada pela Anvisa até hoje e - apesar de tudo - era a vacina mais cara no alvo da Saúde. Mais 50 milhões de doses?!

Quem faz mal à imagem das Forças Armadas não são Aziz e a CPI, mas Pazuello e seus militares, que se meteram onde não deviam. O Datafolha mostra que 58% dos entrevistados são contra militares da ativa em funções civis e uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) proibindo pode entrar em pauta nesta semana. Os militares ganham extras e a sensação de poder, mas a instituição sofre as consequências e, quando a coisa complica, ataca o presidente da CPI, em vez de advertir os da "banda podre".

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

Estudo da UFMG aponta que 5,4 toneladas de ouro do sudoeste do Pará foram incorporadas ilegalmente ao sistema financeiro nacional

Estudo inédito feito por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em cooperação com o MPF aponta que, apenas em 2019 e 2020, os três municípios concentraram 85,7% das ocorrências de esquentamento de ouro no país, prática em que o minério extraído ilegalmente é comercializado com base em declarações fraudulentas de origem. De acordo com o estudo, foram 5,4 toneladas de ouro ilegal que entraram no sistema financeiro dessa maneira nos últimos dois anos.

Por causa disso, o Ministério Público Federal (MPF) iniciou processo na Justiça Federal de Itaituba pedindo a suspensão de todas as permissões para extração, comércio e exportação de ouro na região sudoeste do Pará, que abrange os municípios de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso, onde, nos últimos dois anos, uma escalada de invasões e violências foi promovida por quadrilhas de garimpeiros ilegais. Afetando gravemente terras indígenas dos povos Munduruku e Kayapó, o garimpo criminoso fez da região a principal fonte de ouro ilegal no país.

“Da produção de 30,4 toneladas de ouro do Estado do Pará, no período de 2019 a 2020, ao menos 17,7 toneladas (58,4%) foram extraídas com falsa indicação de origem, seja pelas evidências de extrapolação dos limites autorizados para a lavra pela Agência Nacional de Mineração, seja pela indicação de áreas de floresta virgem como origem do ouro. Esta última modalidade de fraude, aqui denominada de esquentamento chapado, viabilizou a introdução em circulação de 5,4 toneladas de ouro de origem ilegal (quase 18% do total produzido pelo Estado do Pará) apenas nos municípios de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso, onde se situam terras indígenas dos povos Munduruku e Kayapó”, narra a ação judicial.

Economia corrompida

Para o MPF, a cadeia de produção e circulação de ouro de garimpo na região de Itaituba está completamente comprometida pela livre atuação de quadrilhas “que vem fomentando todo tipo de criminalidade, ameaças e violências contra os direitos existenciais de populações vulneráveis, bem como promove a desestruturação social e política desses grupos”.

“Como ficará adiante demonstrado, esse estado de coisas ilegal e inconstitucional, em que se permite que o ouro lavrado criminosamente em terras indígenas ingresse no mercado regular, é de conhecimento e resulta diretamente de ações e omissões deliberadas por parte dos réus, já apontadas pelo MPF em atuações antecedentes, sem que nenhuma medida corretiva tenha sido tempestiva ou eficazmente adotada pelo poder público”, afirmam os procuradores da República.

O MPF considera que, diante da inação do governo federal no combate à ilegalidade dentro da cadeia econômica do ouro, “impõe-se a salvaguarda dos valores existenciais dos povos originários em detrimento dos valores patrimoniais em conflito, ao menos enquanto o estado não indica, de forma programática e sindicável, atuações concretas aptas a solucionar, ou ao menos mitigar, o problema dentro de prazo razoável”. São réus na ação a União, a Agência Nacional de Mineração (ANM) e o Banco Central do Brasil (Bacen).

De acordo com a Constituição e a legislação brasileira, compete à ANM e ao Bacen autorizar e fiscalizar a extração e o comércio de ouro no país. A União é a detentora dos recursos minerais em seus territórios e não pode favorecer a garimpagem nas terras indígenas, pelo contrário, lhe cabe proteger e fazer respeitar todos os seus bens. Para o MPF, está “provado que os réus, por sua omissão ilegal e inconstitucional, promovem a irrigação do mercado com ouro de origem ilegal extraído de terras indígenas e que compactuam, portanto, com a prática sistemática e generalizada da fraude denominada esquentamento de ouro, relegando os povos indígenas às ameaças e violências decorrentes da cobiça e da sanha exploratória de invasores, mineradores ilegais, e criminosos”.

Audiência de justificação

O MPF pediu a suspensão de todas as permissões de lavra garimpeira vigentes em Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso, de todos os efeitos das autorizações administrativas concedidas a distribuidoras de títulos e valores imobiliários, empresas comerciais e ouro e quaisquer outros agentes, pessoa física ou jurídica, que negociem com ouro.

Antes de decidir sobre o pedido, o MPF requisitou à Justiça que promova uma “audiência de justificação prévia designada para apresentação do estudo Legalidade da produção de ouro no Brasil, ocasião em que os réus poderão demonstrar, de forma programática e sindicável, a adoção de medidas concretas aptas a solucionar o problema, ou ao menos mitigá-lo sensivelmente, dentro de prazo razoável”.

A ação aponta 11 medidas que devem ser tomadas pelas autoridades para evitar a suspensão total do comércio de ouro na região, a começar pelo acatamento pacífico e ordeiro das ordens de desintrusão das terras indígenas emanadas pela Justiça Federal e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que até agora vem sendo descumpridas por investidas violentas de garimpeiros ilegais e compradores de ouro que, unidos, atacam as operações policiais.

O MPF requer ainda que o governo federal comprove a retomada e a manutenção das ações de desintrusão das terras indígenas determinadas pelo STF e pela Justiça; a alocação de forças de segurança na região do município de Jacareacanga para assegurar o pleno exercício das liberdades individuais e a proteção dos indígenas incluídos no programa de proteção aos defensores de direitos humanos; e que o governo se abstenha de fazer quaisquer encontros, reuniões, tratativas, negociações, oferecimentos de vantagem, compromissos ou outros acertos que digam respeito à garimpagem em terra indígena.

Caberá ao governo federal, à ANM e ao Bacen comprovar ainda a elaboração e execução de sistemas de certificação de origem e de rastreabilidade do ouro, bem como a instituição da nota fiscal eletrônica do ouro. Até agora, o Brasil não possui nenhum sistema eletrônico de controle do ouro que circula no país. Se todas as medidas não forem comprovadas, pede o MPF que a Justiça então determine a suspensão de toda a extração e circulação de ouro na região.

O Estudo da UFMG


Além de detalhar a extensão das ilegalidades que envolvem o comércio de ouro no Brasil, o estudo que embasa parte da ação judicial do MPF aponta a conexão direta com a explosão do desmatamento na região amazônica. O sistema de detecção de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Deter identificou 21 mil hectares de desmatamento para mineração em 2019 e 2020, sendo 84% dessa área localizada no estado do Pará, 7% em Mato Grosso e 6% no Amazonas.

Elaborado através de acordo de cooperação técnica entre a UFMG e o MPF, o estudo denominado “Legalidade da produção de ouro no Brasil”, desenvolveu um protocolo para a identificação de evidências de irregularidades na produção de ouro, que se fundamenta no cruzamento de imagens de satélite, de algoritmos de classificação de uso do solo elaborados pela Agência Espacial Europeia, de dados georreferenciados do Inpe, de dados oficiais da ANM, situando espacialmente os polígonos em que incidentes requerimentos de pesquisa e de títulos minerários, e de dados da CFEM (Contribuição Financeira por Exploração Mineral), registrando as quantidades de ouro introduzidas no mercado nacional, a identidade dos respectivos compradores e os títulos de lavra que embasariam a extração do minério.

Dessa análise, concluiu-se que, em 2019 e 2020 foram comercializadas 174 toneladas de ouro em território nacional, das quais 69% originaram-se de concessões de lavras e 28% de permissões de lavra garimpeira. Desse total, ao menos 49 toneladas de ouro provieram de áreas com evidências de alguma forma de irregularidade.

O estudo categoriza três formas mais comuns de irregularidades. O ouro é extraído ilegalmente da floresta e, ao ser comercializado nas ruas de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso através das DTVMs e seus representantes, tem a origem declarada em poligonais sem autorização vigente; ou tem a origem declarada em poligonais onde a exploração é proibida, como as terras indígenas; ou tem a origem declarada em poligonais que nunca foram exploradas, o que se verifica nas imagens de satélite. As análises empreendidas pela UFMG a partir das bases de dados e da metodologia citada demonstraram que cerca de 90% do ouro irregular explorado entre 2019 e 2020 teve origem na Amazônia Legal.

A violência e os danos do garimpo nas terras indígenas

“Ao adquirirem ouro ilegal, de modo intencional ou não, DTVMs, pessoas físicas e empresas comerciais não autorizadas pelo Bacen a negociar com ouro terminam por retroalimentar a criminalidade mediante o financiamento de novas invasões de terras, aliciamento de indígenas, aquisição de maquinário de garimpo, aeronaves, combustíveis e até mesmo a contratação de milicianos armados, profissionais liberais e de lobistas para atuar no meio político em prol da liberação de mais áreas para a atividade”, narra a ação do MPF.

O círculo vicioso do garimpo ilegal vem produzindo conflitos graves e cenas de violência na região que escalaram no primeiro semestre de 2021. “Foi nesse contexto de retroalimentação da atividade criminosa que, no dia 19 de março de 2021, por exemplo, deu-se a tentativa de invasão do Igarapé Baunilha, na Bacia do Rio Cururu, berço de vivência do povo Munduruku. O rio Cururu fica na porção oeste do território, ainda preservada, e guarda aldeias importantes, como a aldeia Missão São Francisco. Os Mundurukus consideram que a destruição dessa bacia pela mineração ilegal pode significar o fim da vida indígena na região”, conta o MPF.

A investida de mineradores ilegais rumo à Bacia do Rio Cururu, soube-se depois, persistiria financiada e articulada por vendedores de máquinas, compradores de ouro, donos de postos de combustíveis e outros beneficiados pelo dinheiro do esquentamento. Para o MPF, está comprovado que é a livre oferta de oferta ouro de origem ilegal que estimula as invasões nas terras indígenas, o que exige a adoção de medidas que impeçam a entrada do ouro esquentado no mercado financeiro.

“Além da amplamente noticiada expansão de 363% nos índices de desmatamento nas referidas terras indígenas (Munduruku e Sai Cinza), a atividade garimpeira vem provocando a contaminação dos indígenas por mercúrio em níveis alarmantes, bem superiores aos valores de segurança fixados pela Organização Mundial da Saúde, e comprometendo sua segurança alimentar e nutricional”, diz o MPF, que também informou à Justiça investigar diversas denúncias de exploração sexual de mulheres e crianças e de tráfico de armas e de drogas, associados à atividade garimpeira.

Para o MPF, o fortalecimento do crime organizado no território Munduruku acontece sob o olhar do estado brasileiro, que não tem sido minimamente capaz de agir de forma eficiente e coordenada na repressão às atividades criminosas nas Terras Indígenas Munduruku e Sai Cinza. Nos últimos meses, a região de Jacareacanga/PA, onde se concentra a maior parte do povo indígena Munduruku, tem sido palco de conflitos cada vez mais violentos.

“O fato de a União (por meio da FAB), por outro lado, conduzir mineradores ilegais e pessoas denunciadas por crimes para reuniões em Brasília, mas, ao mesmo tempo, se omitir e tolerar que indígenas contrários ao garimpo ilegal tivessem suas casas incendiadas e fossem impedidos de se locomover, às suas próprias expensas, para se manifestar na capital da República, para além de um simbolismo muito grande, revela uma plêiade de atos administrativos anti-isonômicos que coloca em proeminência os interesses de grupos econômicos em detrimento dos direitos existenciais dos povos indígenas, notadamente o povo Munduruku”, sustenta a ação do MPF.

Fonte: Oestadonet, com informações da Assim do MPF