O episódio é mostra do nível de fragilidade do governo de Jair Bolsonaro. Por três motivos.
O primeiro é que, mesmo oferecendo tanto, não conseguiu atrair para seu lado aquela que foi a legenda que comandou o Centrão por toda a Nova República: o MDB. Que se declarou de oposição. Também não conseguiu atrair o PSD, de Gilberto Kassab, um dos mais hábeis políticos quando se trata do desenho de um jogo de alianças.
A segunda evidência é o nome escolhido por Bolsonaro para assumir a Casa Civil. Ciro Nogueira é presidente do PP. O mesmo PP de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. Que é o homem com poder de executar ou não o impeachment. Bolsonaro se pôs numa situação em que presidente algum deveria se colocar — Ciro é um ministro indemissível. Demiti-lo por desacordo é o mesmo que romper com o PP, tem o potencial de abrir uma crise que pode até lhe custar o mandato. Porque pressão sobre Lira para destravar o impeachment é o que não falta.
Por fim, há a questão do momento. Estas verbas que os parlamentares ganham para projetos em suas praças, junto com o mega-fundão de R$ 4 bilhões ou R$ 6 bilhões, são as armas que têm para sua reeleição. E é isto que interessa ao Centrão — a reeleição de seus quadros. Tendo entregado tanto a um ano e meio da eleição de 2022, Bolsonaro não terá o que oferecer no primeiro semestre do ano que vem. Para abandoná-lo, não custará nada.
Tudo já foi dado.
O Globo, por Pedro Dória